Por André Silveira, diretor de tecnologia e produto da Pixeon, e Humberto Santos, analista de requisitos
Um turista de São Paulo, em férias na Bahia, sofre um acidente
durante passeio na capital soteropolitana. O paciente é prontamente
levado a um hospital da região, e a primeira providência tomada pela
equipe médica segue o protocolo comum em muitas instituições de saúde
Brasil afora: uma série de exames deve ser realizada antes que qualquer
procedimento seja iniciado.

Neste caso fictício, especificamente, nada de mais grave aconteceu –
apenas uma torção no tornozelo e algumas escoriações em decorrência da
queda. Após horas no hospital, o viajante estava de volta ao seu quarto
de hotel se preparando para o jantar.
Quando se trata da vida real, este nem sempre é o roteiro: a depender
do caso, a agilidade no atendimento pode ser determinante para garantir
a integridade do indivíduo. Nessas horas, um sistema integrado com o
histórico de pacientes que elimine a redundância de alguns exames se
torna um aliado das instituições de saúde na “luta contra o relógio”.
E é exatamente por isso que o conceito de interoperabilidade tem
pautado importantes discussões no mercado da saúde, pois garante a
capacidade de diversos sistemas e instituições trabalharem em conjunto,
apesar de suas particularidades, de modo a garantir que interajam para
trocar informações de maneira eficaz e eficiente. Ou seja, são universos
diferentes que possuem a mesma forma de se comunicar.
Simplificando, e recorrendo mais uma vez ao exemplo da ficção
relatado no início desse texto, a interoperabilidade permitiria aos
médicos de Salvador o acesso a todo o histórico de atendimentos do
viajante paulista – realizados em São Paulo ou em qualquer outra cidade
do Brasil –, incluindo sua informações ligadas à presença de alergias,
doenças pré-existentes ou possíveis interações medicamentosas.
Garantir que dados coletados por meio dos equipamentos de um hospital
sejam compartilhados com outras instituições pode, por este prisma,
parecer benéfico apenas aos próprios pacientes, mas não é verdade. A
disseminação desse conceito pode ser um dos atores da transformação de
toda a saúde no país, uma vez que evitaria o desperdício de recursos
causados pela realização de exames desnecessários, o que impacta
diretamente nos custos operacionais de hospitais e clínicas e nos preços
e reajustes praticados pelos convênios, por exemplo.
Já os benefícios proporcionados a hospitais, laboratórios e clínicas
são inúmeros. Não são poucas as instituições que tornaram seus processos
mais ágeis e eficientes – e reduziram consideravelmente a quantidade de
erros – após o uso de soluções que possibilitam uma atuação integrada,
em detrimento ao uso de sistemas próprios e que não “conversam” entre
si. Em um país de dimensões continentais como o nosso, não é difícil
mensurar os impactos quantitativos e qualitativos que seriam causados
apenas com a adoção de novas práticas e de uma atuação com base na
tecnologia.
Ainda que a interoperabilidade garanta que mais seja feito com
investimentos menores, infelizmente está longe de ser unanimidade no
mercado. Mas, não há dúvidas de que este é um tema que deve ser
discutido com todos da sociedade, considerando os benefícios para
instituições (hospitais, clínicas, laboratórios, centros de imagem,
radiologia e diagnósticos), profissionais de saúde e, principalmente,
pacientes. Assim como em um atendimento de emergência, a urgência nesse
debate pode ser a diferença entre a vida e a morte de muitos
brasileiros.