Lucas
Penchel, médico nutrólogo e diretor da Clínica Penchel
No
Brasil, uma pesquisa feita pela sede brasileira da International
Stress Magagement Association
(Isma), em 2016, com mil profissionais, mostrou que 72% dos
entrevistados sofriam com estresse, sendo que 30% deles apresentavam
síndrome de burnout. Definida por Herbert J. Freudenberger como
"(...) um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está
intimamente ligada à vida profissional", o distúrbio envolve,
principalmente a busca pelo reconhecimento e o foco no trabalho como
fonte exclusiva de prazer e sucesso.
Apesar
de estar presente em várias áreas profissionais, o esgotamento
profissional parece assombrar mais àqueles que escolheram medicina
como profissão, como pude observar por natureza própria. Segundo
relatório feito pelo Medscape
Physician Lifestyle Report,
em 2015, 46% dos médicos entrevistados nos Estados Unidos possuem a
síndrome burnout. Embora alarmante, a pesquisa não é uma surpresa.
A cobrança por resultados e a pressão para conseguir entrar na
universidade de medicina são pontos que mereciam uma atenção maior
por parte das autoridades relacionadas ao assunto; seja Governo ou
instituição.
Na
primeira edição de 2017 do Sistema de Seleção Unificada (SISU) na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o curso de medicina foi
o mais disputado, alcançando a marca de 13.084 inscrições para 320
vagas; ou seja, cerca de 654 candidatos para cada vaga
disponibilizada. Por conta da alta procura pela vaga, a nota de corte
para ampla concorrência, por exemplo, foi de 811,70. Além da
concorrência acirrada por vaga em uma universidade pública, aqueles
que optam por faculdade privada têm que enfrentar o valor altíssimo
das mensalidades e dos gastos com materiais e livros. Ambos os casos,
a abdicação da vida social é inevitável, devido ao alto número
de trabalhos, provas e residência.
Muitos
não aguentam o elevado nível de cobrança e apresentam quadros de
ansiedade, depressão, vícios ou, até mesmo, suicídio. Somente
neste primeiro trimestre, uma faculdade privada de Minas Gerais
perdeu dois estudantes de medicina – um do nono período e o outro
do quarto – vítimas de suicídio. Sendo que no ano passado, 2017,
mais dois alunos da mesma faculdade tiraram a própria vida.
É
de senso comum o alto nível de complexidade e responsabilidade que
envolve o dia-a-dia de um médico. Porém medidas precisam ser
estudadas e aplicadas em prol do bem-estar físico e mental dos
graduandos. Precisa-se tratar o assunto desde o início para evitar o
surgimento do burnout, visto que é o sintoma mais frequente e a
porta de entrada para consequências, muitas vezes, irrevogáveis.
Em
suma, trabalhar melhor o quadro de horários e das provas, propor
carga horária justa, instituir atividades paralelas que promovam
“relaxamento” e oferecer ajuda psicológica já será um grande
avanço em relação ao caso. As taxas alarmantes burnout nas
faculdades de medicina certamente diminuiriam e os alunos se
sentiriam acolhidos e apoiados de certa forma.