A
descoberta de um câncer abaixo do nível detectável por testes atuais,
inclusive por meio de amostras de sangue; o controle da eficácia de um
tratamento oncológico; e o monitoramento do possível surgimento de novas
mutações de um tumor maligno, são alguns dos benefícios proporcionados
pelo uso da técnica de dd-PCR (Reação de Polimerase em Cadeia com
tecnologia Digital em gotas) para a realização de diagnóstico e
tratamento do câncer. Com o intuito de oferecer o tratamento
personalizado do câncer por meio do uso de ferramentas inovadoras na
tecnologia do sequenciamento genético, por meio de seu laboratório de genética
molecular, coloca em funcionamento os primeiros painéis genéticos
customizados pela tecnologia dd-PCR no Brasil.
Já
em funcionamento na clínica, a PCR-Digital em gotas é uma técnica de
laboratório usada para fazer milhões ou bilhões de cópias de uma região
específica do DNA do paciente, de modo que a mesma possa ser analisada e
assim contribua para a identificação de mutações genéticas, que
caracterizam vários tipos de câncer. De acordo com o pesquisador e
coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG e
diretor clínico da Personal, o médico, André Márcio Murad, essa nova
técnica possibilita a escolha mais apropriada do tratamento específico
alvo-molecular para cada paciente e ainda contribui para o monitoramento
dos resultados desta terapêutica, por meio da observação do
desaparecimento do DNA tumoral no sangue periférico de pessoas afetadas.
“Em muitas situações, a análise do perfil genético tumoral pode ser
feita inclusive por meio da coleta de sangue periférico, pois esta
tecnologia consegue realizar a leitura do DNA tumoral livre circulante, o
que poupa muitas vezes o paciente de biópsias das metástases tumorais”,
ressalta.
O
PCR Digital em Gotas é uma evolução das técnicas de PCR, pois permite
uma quantificação total e altamente sensível de ácidos nucléicos sem a
necessidade de um padrão. “No sistema de PCR Digital por gotas, uma
amostra de DNA é dividida em 20.000 gotas e, após a amplificação, as
gotas contendo a sequência-alvo são detectadas por fluorescência. A PCR
digital aumenta excessivamente a sensibilidade do teste e possibilita a
detecção de eventos raros, tais como mutações de um único nucleotídeo
em uma população de sequências do tipo selvagem”, explica André Murad.
Murad
esclarece que na técnica de PCR convencional em tempo real, o sinal de
sequências do tipo selvagem pode dominar e encobrir o sinal da sequência
rara, ou seja, ao minimizar os efeitos da competição entre possíveis
alvos, a PCR Digital supera as dificuldades relacionadas à amplificação
das sequências raras, assim permitindo a mensuração integral dos ácidos
nucleicos a serem identificados.
O
oncologista ainda aponta que o diagnóstico e o tratamento do câncer
passaram por profundas e extraordinárias mudanças nos últimos 12 anos.
Murad explica que a terapia convencional, usualmente baseada em agentes
quimioterápicos e hormonais, tem sido substituída gradativamente pela
moderna terapia alvo-molecular, que atua especificamente nas células
tumorais, pois inibe proteínas, ligantes ou receptores relacionados a
mutações genéticas específicas presentes exclusivamente nas células
tumorais.
Por
ser uma doença dos genes, Murad ressalta que o câncer deve ser tratado
de forma individualizada, e tal tratamento deve ser escolhido mediante a
correta identificação das mutações ocorridas nestes genes e daí surge a
necessidade do uso do sequenciamento genético. “O genoma humano, também
conhecido como ‘código da vida’, compreende toda a sequência de DNA e
traz informações de grande relevância para o entendimento e tratamento
de diversas condições geneticamente determinadas. Já o exoma é o
conjunto de éxons, a parte do genoma com uma função biológica ativa,
como as regiões codificantes de todos os nossos 20.000 genes. Nessa
porção, portanto, encontra-se a grande maioria das alterações
responsáveis pelas doenças genéticas, incluindo o câncer”, comenta.
Conforme
o oncologista, o sequenciamento do exoma permite a análise detalhada
das regiões codificantes do genoma humano, tornando possível o estudo da
grande maioria das doenças de origem genética, a partir de uma única
coleta de sangue, ou de uma amostra do tecido tumoral. “O sequenciamento
genético é uma técnica que envolve processos bioquímicos que permitem
identificar cada nucleotídeo em uma cadeia de DNA, como uma leitura,
letra a letra. O Sequenciamento de Nova Geração (NGS) utiliza uma nova
geração de sequenciadores que possibilita o sequenciamento de múltiplos
genomas ou exomas, produzindo dados em larga escala”, diz.
De
acordo com o estudo francês "Profiler”, apresentado durante o Congresso
Americano de Oncologia (ASCO) em junho na cidade de Chicago (EUA), a
utilização de painéis genômicos de sequenciamento de nova geração (NGS)
são essenciais para a escolha de tratamentos alvo-moleculares contra
tumores malignos em estágio avançado. “Esta ferramenta é imprescindível
na prática da moderna oncologia personalizada e de precisão, mas só
agora foi consubstanciada por este estudo prospectivo de grande porte,
que analisou 1944 pacientes e identificou um ganho na sobrevida dos
pacientes tratados de forma personalizada de acordo com o perfil
genético dos tumores em comparação com aqueles tratados de forma
convencional”, comenta André Murad.
Por
fim, o médico pontua que a partir do sequenciamento, drogas
alvo-moleculares, anticorpos monoclonais ou imunoterápicos podem ser
indicados para efetivo tratamento que, por ser direcionado
especificamente às células tumorais, apresenta um potencial muito menor
de toxicidade e melhor tolerância geral.
