Abaixo pesquisa de etnobotânica sobre a planta Silsal:
EFEITOS DO EXTRATO DE SISAL (Agave sisalana) SOBRE O CURUQUERÊ (Alabama argillacea)
(LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE)
Aderdilânia Iane Barbosa de Azevedo1, José Ednilson Miranda2, José Janduí Soares3, José Dijair
Antonino de Souza Júnior4 , Marciene Dantas Moreira5. (1) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143
Centenário Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB, (2) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo
Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB, e-mail
miranda@cnpa.embrapa.br (3) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário Caixa Postal
174, 58107-720, Campina Grande, PB, (4) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 Centenário
Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB (5) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143
Centenário Caixa Postal 174, 58107-720, Campina Grande, PB
RESUMO
Uma das principais dificuldades enfrentadas na cultura do algodão é a realização correta do
controle de pragas. O suco de sisal tem sido relatado como causa de efeito tóxico em alguns insetos.
Logo, este trabalho objetivou avaliar o potencial inseticida do extrato de Agave sisalana, determinando
sua letalidade sobre Alabama argillacea (curuquerê do algodoeiro). Para isto, folhas do algodoeiro
foram imersas em soluções com concentrações de 2, 10, 25, 50, 75 e 100% do extrato bruto e
fornecidas a 10 lagartas de 1º e 3º instar de A. argillacea. Utilizou-se como solvente água destilada,
sendo efetuadas 4 repetições. Os registros da mortalidade foram efetuados a 72 horas da aplicação e
os dados avaliados através da análise de probit. A resposta dos insetos de 1º instar à exposição do
extrato relacionou-se funcionalmente com a concentração, de modo que o aumento desta implicou em
aumento da suscetibilidade. Após 72 horas da aplicação, a CL50 foi de 39,49% para lagartas de 1º
instar e apenas a Cl10 foi registrada para as 3º instar, sendo esta de 83,78%. Assim, o extrato de sisal
apresenta efeito tóxico agudo sobre lagartas de 1º instar, mostrando-se uma alternativa promissora
para o controle de pragas.
INTRODUÇÃO
Devido à necessidade da produção de alimentos, o homem vem intervindo cada vez mais nos
ecossistemas naturais, alterando o equilíbrio natural das populações. Com os problemas ocasionados
pelo uso indiscriminado de inseticidas químicos, surgiu a necessidade da obtenção de novos produtos
para o controle de pragas. Ao contrário de muitos inseticidas sintéticos, os bioinseticidas são
presumivelmente rapidamente biodegradados, sendo por isso menos danosos ao ambiente
(FREEDMAN et al., 1979). Além disso, compostos vegetais costumam apresentar características mais
específicas e seletivas, curto efeito residual e baixa toxicidade a mamíferos (NAKANO et al., 1992;
DANTAS, 1993; VENDRAMIN, 2000)
O Brasil é o maior produtor mundial de sisal, com cerca de 116.000 toneladas de fibras anuais, o
que representa 30% da produção mundial de fibras duras. Com sua exploração concentrada nos
Estados do Nordeste, constitui-se numa alternativa importante para regiões de clima árido (SILVA &
BELTRÃO, 1999). O principal produto da cultura do sisal, fibras obtidas para confecção de cordas, fios
e tapetes, representa apenas 4% do peso total da planta. O restante (bagaço e suco) poderia ser
utilizado como matéria prima abundante e barata para outras aplicações. O suco de sisal apresenta em
sua composição química vários compostos orgânicos, como o ácido oxálico, a cortisona e a saponina,
substâncias que têm sido relacionadas a processos de interação planta-animal, por causarem efeitos
de irritação, antibiose ou toxidade.
A cultura do algodão no Brasil tem grande significado sócio econômico, principalmente para a
região nordeste. Uma das principais dificuldades enfrentadas é a realização correta do controle de
pragas, já que existe uma variedade que atacam esta cultura. Dentre estas podemos destacar a
Alabama argillacea – curuquerê do algodoeiro, uma das principais pragas desfoliadoras. Os danos
causados por esta praga são provocados pela redução da área fotossintética, uma vez que se
alimentam das folhas da planta (VENTURA, 1999). Logo, este trabalho objetivou avaliar o potencial
inseticida do extrato de Agave sisalana, determinando sua letalidade em lagartas de 1º e 3° instar de
Alabama argillacea - curuquerê do algodoeiro.
MATERIAIS E MÉTODOS
O suco do sisal, um subproduto do beneficiamento da fibra do sisal, foi obtido junto aos
produtores na região sisaleira da Paraíba. O extrato bruto foi armazenado em recipientes plásticos e
devidamente embalado, a fim de evitar eventual fotodegradação e mantido em geladeira até sua
utilização, para proteger do efeito de temperaturas elevadas (MARQUES, 1978).
A criação de A. argillacea foi desenvolvida no Laboratório de Entomologia da Embrapa Algodão,
em Campina Grande, PB, em temperatura ambiente, seguindo-se a metodologia sugerida por Oliveira
et al. (2001). Os bioensaios também foram realizados no mesmo local.
Para testes de suscetibilidade, o extrato bruto foi utilizado nas concentrações de 2, 10, 25, 50,
75 e 100%, sendo aos tratamentos adicionados um controle absoluto (contendo apenas o solvente) e
um branco positivo (contendo solução de Endosulfan (Thiodan®) na concentração de campo utilizada
para controle do curuquerê (1 l/ha em volume de calda de 100 l/ha). O solvente para todos os
tratamentos foi água destilada. Nestes testes, a metodologia consistiu na imersão das folhas em
soluções contendo os diferentes tratamentos (concentrações de extrato e controles), por cinco
segundos. Após 20 minutos de repouso, para que as folhas tivessem o excesso de água evaporada,
estas foram fornecidas a lagartas de 1º e 3º instares de A. argillacea, dentro de recipientes plásticos de
15cm de diâmetro, forradas com papel de filtro. Cada recipiente constituiu uma parcela, contendo como
número inicial 10 lagartas.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com 8 tratamentos e 4
repetições. Os registros da mortalidade dos insetos foram efetuados a 72 horas após a aplicação.
Como critérios de avaliação, os indivíduos foram classificados como ilesos ou mortos (conforme
WILSON, 1990). As avaliações dos dados de toxicidade aguda foram efetuadas através da análise de
Probit.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As respostas de A. argillacea de 1º instar às aplicações do extrato de sisal mostraram-se dosedependentes, pois quanto maior foi a dose aplicada, maior foi a taxa de mortalidade. Fato similar
ocorreu com as lagartas de 3º instar, porém com mortalidade bem inferior (Figura 1).
Os testes estatísticos estão representados na tabela 1. Após 72 horas da aplicação, registrou-se
uma CL50 de 39,49% para os insetos de 1º instar. Apenas a CL10 foi registrada para os insetos de 3º
instar, sendo esta de 83,78%, um valor muito alto comparado à CL10 (14,50%) para o 1º instar larval.
Os testes t, χ2 e o índice de significância g, testaram o conjunto de dados submetido à análise
de Probit (FINNEY, 1971). Pelo teste t, que experimentou a linearidade da função dose-resposta,
verificou-se que todos os valores observados, para as lagartas de 1º instar, foram significativos e o
teste χ2 comprovou a adequabilidade dos dados ao modelo de análise de Probit (ROBERTSON &
PREISLER, 1992). Finalmente, o índice de significância g estimou os limites de confiança dos valores
médios de cada dose. Segundo Robertson & Preisler (1992), se g é maior que 0,5, o valor da dose letal
pode sair fora dos limites de confiança. Para as lagartas de 1º instar os valores mostraram-se
apropriados. Entretanto, para os insetos de 3º instar, os testes estatísticos não foram significativos para
a atividade do extrato.
Calculada a média de mortalidade por concentração do extrato (Tabela 2), foi possível constatar
que, para os insetos de 1º instar, o extrato bruto demonstrou tanta eficiência quanto à solução de
Endosulfan (Thiodan®). No entanto para as lagartas de 3º instar o extrato bruto não demonstrou
eficiência, o que ocorreu também com o Thiodan®, comprovando desta forma a resistência dos insetos
neste estágio larval.
Durante a realização do experimento foi possível observar a importância do tempo e
armazenamento do extrato, já que após aproximadamente 20 dias de armazenamento as aplicações
não foram bem sucedidas.
Os resultados corroboram diversos trabalhos envolvendo o potencial inseticida do extrato de
sisal. Abdel-Gawad et al. (1999) extraíram e isolaram quatro saponinas da espécie Agave decipiens
Backer, que mostraram atividade moluscicida contra Biomphalaria alexandrina, um caracol hospedeiro
intermediário de Schistosoma mansoni. Pizzarro (1998) utilizou extrato de A. americana no controle de
carrapato bovino (Boophilus microplus), constatando 95% de mortalidade quando utilizado o extrato
bruto e 100% de mortalidade quando diluído em óleo na proporção 1:1. Pizzarro et al. (2000), após
efetuarem a extração de saponinas do extrato de sisal, aplicaram a substância em larvas de 3º instar
de Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus, obtendo CL50 de 322 e 183 ppm, respectivamente.
CONCLUSÕES
O extrato de A. sisalana apresenta efeito tóxico agudo contra lagartas de 1º instar de A.
argillacea, sendo estimada a CL50 de 39,49% após 72 horas de exposição. Para lagartas de 3º instar o
extrato não apresenta eficiência, já que neste estágio larval as lagartas demonstram maior resistência a
atividade inseticida. O potencial inseticida do extrato configura-se como uma alternativa promissora,
desde que seu uso seja efetuado no início das infestações, com a maioria da população da praga ainda
em 1º instar larval. Sugere-se ainda não exceder a 2 semanas o período de armazenamento do extrato,
armazenar em geladeira e proteger contra fotodegradação.
Tabela 1. Testes estatísticos componentes da análise de Probit e respectivas CL10 e CL50 preditas com base nos dados
de resposta de Alabama argillacea à aplicação de extrato de Agave sisalana.
Insetos teste t teste χ² (g.l.) teste g CL10 (Lci-Lcs) CL50 (Lci-Lcs)
instar 10,57 * 92,49(74) n.s. 0,04 * 14,5(9,77-18,92) 39,49(33,33-45,14)
3º instar 3,3 * 177,15(94) * 0,68 n.s. 83,78( - ) -
* Significativo a 5%
Tabela 2. Percentual de mortalidade de Alabama argillacea após 72 horas da aplicação do extrato de
Agave sisalana.
Percentual de morte por concentração do extrato Insetos 0% 2% 10% 25% 50% 75% 100% Thiodan®
1º instar 1,99 5 10 33 55 77,2 90,1 89,9
3º instar 2,9 2,5 1,25 4,4 10,6 10 12,5 86,1
y = -0,0006x2
+ 0,1659x + 1,6555
R2
= 0,90
y = -0,0041x2
+ 1,3054x + 1,0831
R2
= 0,99
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Conc. extrato (%)
Mortalidade (%)
1º ínstar 3º ínstar
Figura 1. Mortalidade média de lagartas de 1º e 3º instar de Alabama argillacea (Huebner, 1818) (Lepidoptera: Noctuidae)
após 72 horas da aplicação em função da dose de extrato de Agave sisalana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Marcelo dos Santos - jornalista - MTb 16.539 SP/SP