Neurocirurgião alerta que algumas crises podem passar despercebidas pelo portador e por pessoas próximas a ele
No próximo 26 de março será celebrado o
Dia Mundial da Conscientização da Epilepsia, conhecido mundialmente como “Dia Roxo” (originalmente,
Purple Day).
Em diversos países
as pessoas são convidadas a vestir alguma peça de roupa roxa,
como símbolo de apoio à causa – a
cor
que simboliza a epilepsia, que é associada à solidão e ao seu sintoma
mais peculiar: a crise epiléptica. No entanto, como explica o
neurocirurgião especialista em cirurgia de epilepsia,
Dr. Luiz Daniel Cetl, o distúrbio neurológico apresenta outros sintomas, muitos até despercebidos por seus portadores e pessoas próximas a ele. “Muitos
pacientes
sentem apenas um mal-estar na boca do estômago, o que também pode
sinalizar uma crise, mas, justamente por ser desconhecido e mais
simples, este sintoma pode passar despercedido”, alerta o médico.
Geralmente, a crise epiléptica ocorre quando
o indivíduo perde a consciência e cai no chão, apresentando contrações musculares em todo o corpo. Mas os
sintomas
da epilepsia vão depender da localicação do foco epiléptico, ou seja,
de onde se originam as crises. Se, por exemplo, estiver próximo à area
motora, provavelmente o sintoma
será ilustrado pelo abalo do membro que essa região coordena. Se
relacionada à area visual, poderá ser caracterizado pela alteração da
visualização de cores.
Calcula-se que aproximadamente
de 0,5 a 0,7% de pessoas no mundo têm epilepsia. Em 50% dos casos, a causa é desconhecida e 75% têm início ainda na infância. “Os
principais sinais apresentados por portadores de epilepsia são a perda
de consciência, quando o indivíduo cai no chão, há contrações musculares
em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração
ofegante e, às vezes, a micsão involuntária.
São os sinais mais evidentes, embora existam outros, como movimentação
espontânea e incontrolável de mãos, braços e pernas. Os sintomas e seus
sinais característicos aparecerão conforme a localização do grupo de
neurônios afetados”, explica o médico.
O neurocirurgião Dr. Luiz Daniel
diferencia os tipos de crises da epilepsia em dois tipos: crises
parciais (simples e complexas) e crises generalizadas. Nas crises
generalizadas, as descargas elétricas anômalas acometem o cérebro como
um todo, causando a perda de consciência e sintomas que
variam de abalos de todo o corpo, postura tônica, e até atonia (onde há
um relaxamento global de todos os músculos. ) Nas crises parciais,
apenas uma porção do cérebro é acometido, sendo que este tipo é dividido
em: parciais simples, com sintomas apenas motor,
visual ou de mal estar, sem afetar a consciência; e crises parciais
complexas, quando há acometimento do controle motor ou visual e também
alguma alteração na consciência, mas não a sua perda, como acontece com
as crises generalizadas.
“Entre
as manifestações da epilepsia, existem as crises de ausência, a parada
comportamental e o estado de
mal epiléptico. A crise de ausência dura décimos de segundo ou, no
máximo 1 segundo, em que nem mesmo pessoas próximas conseguem perceber
que o paciente teve uma crise, que pode se repetir mais de uma vez ao
dia”, relata Luiz Daniel Cetl. “Na parada comportamental,
caracterizada como uma crise parcial complexa e muito mais frequente, o
paciente fica parado, com o olho arregalado, como se estivesse fora de
si. O mais grave no estado de mal epilépico é quando existe uma ativação
contínua dos neurônios desfuncionantes,
que pode ser parcial ou generalizada, de maneira ineterrupta, o que
pode ocasionar lesões cerebrais”, completa.
Epilepsia no dia a dia
Apesar
do estigma, os pacientes com epilepsia têm uma vida ativa, como tiveram
Vincent van Gogh, Fiódor Dostoiévski
e Machado de Assis, grandes nomes da artes e literatura que eram
portadores da doença. Por isso, o Dia do Roxo é mais uma oportunidade
para conscientizar e diminuir os preconceitos em relação à epilepsia e
seus portadores.
O
especialista orienta que, ao se deparar com uma pessoa com crise
epiléptica, o ideal é deitá-la no chão
e afastá-la de objetos e móveis que possam machucá-la enquanto estiver
se debatendo. “Jamais coloque a mão ou o dedo na boca do paciente.
Durante uma crise convulsiva, o portador tem salivação intensa e o
indicado é mantê-lo de lado para evitar que se sufoque
com a saliva. É preciso deixá-lo se debater livremente até que a crise
passe, e isso tem duração de segundos ou poucos minutos”, diz o Dr. Luiz
Daniel Cetl. Ele explica ainda que em casos de crises repetitivas a
emergência deve ser acionada imediatamente.
Tratamento:
O
tratamento convencional para a epilepsia é por via medicamentosa, com
uso das chamadas drogas antiepilépticas
(DAE), eficazes em cerca de 70% dos casos (há controle das crises) e
com efeitos colaterais diminutos. Quando não há controle destes
sintomas, outros tratamentos possíveis são a cirurgia e a estimulação do
nervo vago. No entanto, apenas um profissional, analisando
o caso, poderá indicar o tratamento apropriado para o paciente.
As
cirurgias são divididas em ressectivas, ou seja, sabe-se o foco
cerebral das descargas que ocasionam uma
crise da epilepsia e o retira. E cirurgias desconectivas, em que o foco
não é localizado, mas sabe-se que é oriundo em apenas um lado do
cérebro, sendo realizada a separação dos hemisférios para que essas
descargas não passem de um lado para o outro do hemisfério
cerebral. Há também o tratamento da implantação de eletrodo no nervo
vago, em que a emissão de estímulos ao cérebro permite o controle das
crises, em definitivo ou para a sua diminuição.
O
neurocirurgião ressalta também que o objetivo do tratamento é garantir
uma melhor qualidade de vida ao
paciente. A epilpsia não é transmitida pelo ar ou contato físico. Seu
tratamento é imprescindível e deve ser feito adequadamente, para evitar
que o paciente tenha sua vida fortemente afetada, por não ter controle
das crises e, consequentemente, afastar-se
socialmente.
Dia do Roxo
O
Dia Roxo surgiu em 2008, idelaizado por Cassidy Megan, um garota então
com 9 anos de idade, motivada por
suas próprias lutas com epilepsia e para acabar com os mitos e informar
aqueles com crises de que eles não estão sozinhos. É uma data que vem
mobilizando milhares de pessoas em todo mundo e também no Brasil,
reforçando os apelos em prol do paciente epiléptico.
“Hoje,
existe controle e tratamento, e o paciente pode e deve levar uma vida
como qualquer outra pessoa. Não é preciso isolar-se, mas é
imprescindivel
seguir o tratamente adequadamente”, diz o neurocirurgião.
O
Purple Day é realizado com o apoio da Associação Epilepsia de
Nova Escócia (EANS), uma instituição de caridade canadense, e da
Fundação Anita Kaufmann Fundação (EUA).
Fonte para entrevista:
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