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terça-feira, 5 de julho de 2016

Antibióticos: uma em cada três prescrições é desnecessária

Antibióticos: uma em cada três prescrições é desnecessária

Em 2013, em uma matéria da Folha de São Paulo (Bactérias resistentes abrem a possibilidade de uma era pós-antibióticos), Margareth Chan, diretora geral da OMS, chama atenção: “O mundo está prestes a perder essas curas milagrosas”


Antibióticos são medicamentos que devem ser utilizados apenas contra infecções bacterianas e, mesmo assim, se elas forem gastrintestinais, há aplicação em bem poucas delas.

Um estudo recente, publicado no JAMA (Journal of American Medical Association), avaliou a prescrição de antibióticos orais, no cadastro nacional de cuidados ambulatoriais entre 2010 e 2011, separados por idade, região e diagnósticos nos Estados Unidos.

Entre as 184.032 consultas ambulatórias da amostra, 12,6% resultaram em prescrição de antibióticos, sendo que a sinusite foi o mais frequente diagnóstico isolado dessa população (56/1.000), seguida de otite média supurada (47/1.000) e faringite (43/1.000). Coletivamente, as infecções respiratórias responderam por 221/1.000 das prescrições, sendo que, entre essas, apenas 111/1.000 foram consideradas apropriadas.


Nessa estatística, estimou-se 505 prescrições de antibióticos sendo apenas 353 consideradas corretas, mostrando que cerca de 1/3 das prescrições foram inadequadas aos quadros que foram tratados (resfriados, bronquites, dores de garganta, infecções de ouvidos e seios da face, segundo os autores) e mesmo que essa pesquisa já tenha 5 anos, não há uma expectativa de dados diferentes nos dias de hoje.

Esse abuso de prescrição estimulou o aumento de bactérias resistentes, que infectam cerca de 2 milhões de americanos ao ano, levando a 23.000 mortes anuais, segundo fontes do CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

“Em nossa prática diária, no Brasil, não temos essa estatística recente, mas pela percepção e pelos resultados de aumento de resistência bacteriana, ela não deve ser muito diferente. Vale lembrar que antibióticos não ‘matam bactérias ruins’ e sim ‘bactérias sensíveis’. Nesse caso, quando se utiliza um antibiótico, quer seja da forma adequada ou não, ocorre uma seleção de nossa flora bacteriana oral, intestinal e vaginal, que forma grande parte de nosso sistema de proteção”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Assim, segundo o pediatra, “além de nos deixar mais suscetíveis a uma infecção por diminuição das defesas, de interferir de forma prejudicial no sistema digestivo, essa é uma forma de transmissão de resistência a agentes infecciosos bacterianos que dificultam a ação dos antibióticos existentes, gerando maiores riscos de morte”, alerta.

Por isso, e pela dificuldade e importância do diagnóstico adequado de uma infecção bacteriana, podem ser necessários exames que identifiquem o agente causal com certeza e rapidez e uma técnica de coleta adequada. “Os testes rápidos feitos de material da boca e garganta de crianças costumam ser decisivos. As coletas de exames de urina precisam ser realizadas de forma correta, sem riscos de contaminação, e com análise adequada. As radiografias devem ser executadas em boas condições. Não se recomenda fazer radiografias de seios da face de crianças abaixo de 4 anos de idade em busca de sinusite se até essa idade elas não têm seios da face formados. Manchinhas no pulmão não representam, em grande parte das vezes, broncopneumonia bacteriana. Um vírus não vai se transformar em bactéria”, explica o médico, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo.


Antibióticos são excelentes medicamentos, com indicação precisa, mas que requerem critérios em sua prescrição para que possam ser ainda utilizados na plenitude de sua capacidade e de seus benefícios. “O uso além da conta, além de não ser necessário, pode causar prejuízos ao paciente e à população de forma geral, através de um aumento da resistência bacteriana”, defende o pediatra.
Antibióticos: uma em cada três prescrições é desnecessária

Em 2013, em uma matéria da Folha de São Paulo (Bactérias resistentes abrem a possibilidade de uma era pós-antibióticos), Margareth Chan, diretora geral da OMS, chama atenção: “O mundo está prestes a perder essas curas milagrosas”


Antibióticos são medicamentos que devem ser utilizados apenas contra infecções bacterianas e, mesmo assim, se elas forem gastrintestinais, há aplicação em bem poucas delas.

Um estudo recente, publicado no JAMA (Journal of American Medical Association), avaliou a prescrição de antibióticos orais, no cadastro nacional de cuidados ambulatoriais entre 2010 e 2011, separados por idade, região e diagnósticos nos Estados Unidos.

Entre as 184.032 consultas ambulatórias da amostra, 12,6% resultaram em prescrição de antibióticos, sendo que a sinusite foi o mais frequente diagnóstico isolado dessa população (56/1.000), seguida de otite média supurada (47/1.000) e faringite (43/1.000). Coletivamente, as infecções respiratórias responderam por 221/1.000 das prescrições, sendo que, entre essas, apenas 111/1.000 foram consideradas apropriadas.


Nessa estatística, estimou-se 505 prescrições de antibióticos sendo apenas 353 consideradas corretas, mostrando que cerca de 1/3 das prescrições foram inadequadas aos quadros que foram tratados (resfriados, bronquites, dores de garganta, infecções de ouvidos e seios da face, segundo os autores) e mesmo que essa pesquisa já tenha 5 anos, não há uma expectativa de dados diferentes nos dias de hoje.

Esse abuso de prescrição estimulou o aumento de bactérias resistentes, que infectam cerca de 2 milhões de americanos ao ano, levando a 23.000 mortes anuais, segundo fontes do CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

“Em nossa prática diária, no Brasil, não temos essa estatística recente, mas pela percepção e pelos resultados de aumento de resistência bacteriana, ela não deve ser muito diferente. Vale lembrar que antibióticos não ‘matam bactérias ruins’ e sim ‘bactérias sensíveis’. Nesse caso, quando se utiliza um antibiótico, quer seja da forma adequada ou não, ocorre uma seleção de nossa flora bacteriana oral, intestinal e vaginal, que forma grande parte de nosso sistema de proteção”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Assim, segundo o pediatra, “além de nos deixar mais suscetíveis a uma infecção por diminuição das defesas, de interferir de forma prejudicial no sistema digestivo, essa é uma forma de transmissão de resistência a agentes infecciosos bacterianos que dificultam a ação dos antibióticos existentes, gerando maiores riscos de morte”, alerta.

Por isso, e pela dificuldade e importância do diagnóstico adequado de uma infecção bacteriana, podem ser necessários exames que identifiquem o agente causal com certeza e rapidez e uma técnica de coleta adequada. “Os testes rápidos feitos de material da boca e garganta de crianças costumam ser decisivos. As coletas de exames de urina precisam ser realizadas de forma correta, sem riscos de contaminação, e com análise adequada. As radiografias devem ser executadas em boas condições. Não se recomenda fazer radiografias de seios da face de crianças abaixo de 4 anos de idade em busca de sinusite se até essa idade elas não têm seios da face formados. Manchinhas no pulmão não representam, em grande parte das vezes, broncopneumonia bacteriana. Um vírus não vai se transformar em bactéria”, explica o médico, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo.


Antibióticos são excelentes medicamentos, com indicação precisa, mas que requerem critérios em sua prescrição para que possam ser ainda utilizados na plenitude de sua capacidade e de seus benefícios. “O uso além da conta, além de não ser necessário, pode causar prejuízos ao paciente e à população de forma geral, através de um aumento da resistência bacteriana”, defende o pediatra.

Em 2013, em uma matéria da Folha de São Paulo (Bactérias resistentes abrem a possibilidade de uma era pós-antibióticos), Margareth Chan, diretora geral da OMS, chama atenção: “O mundo está prestes a perder essas curas milagrosas”


Antibióticos são medicamentos que devem ser utilizados apenas contra infecções bacterianas e, mesmo assim, se elas forem gastrintestinais, há aplicação em bem poucas delas.

Um estudo recente, publicado no JAMA (Journal of American Medical Association), avaliou a prescrição de antibióticos orais, no cadastro nacional de cuidados ambulatoriais entre 2010 e 2011, separados por idade, região e diagnósticos nos Estados Unidos.

Entre as 184.032 consultas ambulatórias da amostra, 12,6% resultaram em prescrição de antibióticos, sendo que a sinusite foi o mais frequente diagnóstico isolado dessa população (56/1.000), seguida de otite média supurada (47/1.000) e faringite (43/1.000). Coletivamente, as infecções respiratórias responderam por 221/1.000 das prescrições, sendo que, entre essas, apenas 111/1.000 foram consideradas apropriadas.


Nessa estatística, estimou-se 505 prescrições de antibióticos sendo apenas 353 consideradas corretas, mostrando que cerca de 1/3 das prescrições foram inadequadas aos quadros que foram tratados (resfriados, bronquites, dores de garganta, infecções de ouvidos e seios da face, segundo os autores) e mesmo que essa pesquisa já tenha 5 anos, não há uma expectativa de dados diferentes nos dias de hoje.

Esse abuso de prescrição estimulou o aumento de bactérias resistentes, que infectam cerca de 2 milhões de americanos ao ano, levando a 23.000 mortes anuais, segundo fontes do CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

“Em nossa prática diária, no Brasil, não temos essa estatística recente, mas pela percepção e pelos resultados de aumento de resistência bacteriana, ela não deve ser muito diferente. Vale lembrar que antibióticos não ‘matam bactérias ruins’ e sim ‘bactérias sensíveis’. Nesse caso, quando se utiliza um antibiótico, quer seja da forma adequada ou não, ocorre uma seleção de nossa flora bacteriana oral, intestinal e vaginal, que forma grande parte de nosso sistema de proteção”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Assim, segundo o pediatra, “além de nos deixar mais suscetíveis a uma infecção por diminuição das defesas, de interferir de forma prejudicial no sistema digestivo, essa é uma forma de transmissão de resistência a agentes infecciosos bacterianos que dificultam a ação dos antibióticos existentes, gerando maiores riscos de morte”, alerta.

Por isso, e pela dificuldade e importância do diagnóstico adequado de uma infecção bacteriana, podem ser necessários exames que identifiquem o agente causal com certeza e rapidez e uma técnica de coleta adequada. “Os testes rápidos feitos de material da boca e garganta de crianças costumam ser decisivos. As coletas de exames de urina precisam ser realizadas de forma correta, sem riscos de contaminação, e com análise adequada. As radiografias devem ser executadas em boas condições. Não se recomenda fazer radiografias de seios da face de crianças abaixo de 4 anos de idade em busca de sinusite se até essa idade elas não têm seios da face formados. Manchinhas no pulmão não representam, em grande parte das vezes, broncopneumonia bacteriana. Um vírus não vai se transformar em bactéria”, explica o médico, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo.


Antibióticos são excelentes medicamentos, com indicação precisa, mas que requerem critérios em sua prescrição para que possam ser ainda utilizados na plenitude de sua capacidade e de seus benefícios. “O uso além da conta, além de não ser necessário, pode causar prejuízos ao paciente e à população de forma geral, através de um aumento da resistência bacteriana”, defende o pediatra.

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