Levantamento feito junto a 3027 pacientes diagnosticados e tratados no A.C.Camargo entre 2000 e 2011 destaca que em 76% dos casos a doença foi diagnosticada em fase inicial e apenas 5% deles descobriram a doença abaixo dos 50 anos. A sobrevida global em cinco anos foi superior a 90%, ou seja, 9 entre 10 pacientes viveram mais do que cinco anos após o tratamento
Estamos em novembro, mês de conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. A doença que é o alvo desta mobilização global é a segunda maior causa de morte no país por câncer entre homens, ficando atrás apenas do câncer de pulmão. A estimativa é que em 2016, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer, sejam diagnosticados 61 mil novos casos de câncer de próstata no Brasil, sendo estimadas mais de 13 mil mortes este ano no país. Em âmbito mundial, também é o segundo câncer em incidência e o quinto em mortalidade nos homens. De acordo com o Globocan 2012, são registrados 1,1 milhão de novos casos por ano de câncer de próstata e cerca de 300 mil mortes.
Em meio a este cenário, há uma boa notícia. Diagnosticar a doença em fase inicial possibilita que o tratamento tenha êxito em 9 entre 10 casos. Isso aliado a uma terapia individualizada com ênfase em redução de sequelas e complicações com o máximo de resultados. Um levantamento inédito realizado pelo Departamento de Urologia juntamente com a equipe de Epidemiologia do A.C.Camargo Cancer Center evidencia a importância do rastreamento com foco em diagnóstico precoce e queda de mortalidade por câncer de próstata.
Neste estudo foram analisados, retrospectivamente, os registros de 3027 pacientes diagnosticados e tratados no A.C.Camargo entre 2000 e 2011. Observou-se que em 76% dos casos a doença foi diagnosticada em fase inicial, (dados que contrastam com os dados americanos, onde mais de 90% são diagnosticados nesta fase, e reforçam os poucos dados existentes no País) sendo que apenas 5% deles descobriram a doença abaixo dos 50 anos. Este alto índice de diagnóstico precoce propiciou procedimentos menos invasivos - cirurgias por vídeo (laparoscopia e robótica) e por ultrassom focalizado de alta frequência (HIFU) - que exigem menos tempo de internação, menos risco de complicações e, em casos de sequelas, menor tempo de recuperação, proporcionando assim melhor qualidade de vida para o paciente.
São dados que legitimam o rastreamento de câncer de próstata. A idade mínima preconizada para a realização dos exames PSA e toque retal é 50 anos, antecipando para 45 anos em caso de pacientes de pele negra, obesos, com história familiar ou ainda em caso de mutação nos genes BRCA 1 ou 2, os mesmos que estão ligados a síndrome de câncer de mama e ovário. A avaliação, caso a caso, é feita pelo especialista levando em conta a junção do exame físico (toque retal) à análise de dosagem do nível de PSA. Outros exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser solicitados para auxiliar no diagnóstico, porém a indicação da biópsia, para aqueles pacientes de maior risco, diminui a possibilidade de falso-positivos e complicações decorrentes do procedimento. Somente a biópsia pode confirmar ou não a presença de um câncer.
MAIOR SOBREVIDA DO PACIENTE - O levantamento mostrou também que a evolução do tratamento personalizado e da abordagem multidisciplinar tem resultado em melhores índices de sobrevida. A análise de sobrevida global (que avaliou o percentual de pacientes vivos cinco anos após o tratamento) saltou de 82,9% entre os pacientes diagnosticados no quinquênio 2000 a 2004, para 90,2% nos pacientes diagnosticados entre 2005 e 2009 e para 92,6% entre os pacientes que receberam o diagnóstico em 2010 ou 2011.
Vale destacar que essa casuística do A.C.Camargo, representa, portanto, o cenário de uma instituição que é uma das referências mundiais em diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do câncer, mas que não reflete o cenário como um todo do país.
PREVENÇÃO - Quando o assunto é prevenção, o percurso contra o câncer de próstata é conhecido. Independentemente de fatores de risco como envelhecimento e histórico familiar, a incidência é reduzida com a adoção de estilo de vida saudável, que consiste em manter-se distante do tabagismo e que privilegie uma dieta saudável e a prática frequente de atividade física.
A atividade física atua na prevenção do câncer ao ser um elemento contra o sobrepeso ou diferentes graus de obesidade. Isso porque a obesidade desregula múltiplas vias hormonais, estando associada à altos níveis de insulina, baixos níveis de adiponectina (hormônio protéico que modula vários processos metabólicos, incluindo a regulação da glicemia o catabolismo de ácidos graxos), baixos níveis de testosterona, altos níveis de citocinas inflamatórias (que afetam a resposta imune) e cada um destes fatores podem ser determinantes para a progressão do câncer.
E o interessante, explica Gustavo Guimarães, é que para ter o risco de câncer de próstata diminuído não é necessário ser um atleta de alto rendimento. “Se a a pessoa fizer exercícios de intensidade leve ou moderada durante 150 minutos por semana já será um importante hábito preventivo. É fundamental também associar a prática de esportes a uma dieta saudável que inclua antioxidantes, dentre eles o selênio, vitamina E e licopeno”, explica.
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