A iniciativa realizada no bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, oferece um novo sentido à vida dos participantes, especialmente de Valdelina. No Dia Nacional do Voluntariado, 28 de agosto, o destaque é o que ganha quem doa
A história da dona de casa Valdelina Maria, de 65 anos, é marcada pela tragédia. Há 24 anos, o marido se suicidou e dos seis filhos que ela teve só restaram quatro. Um deles foi assassinado e outro morreu afogado. Diante das perdas, Valdelina entrou em depressão e passou duas décadas se tratando com remédios. A vida ganhou um novo sentido quando começou a ser voluntária no projeto Padaria Solidária, em 2015.
O projeto é realizado há 20 anos na Igreja Adventista localizada no bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte. Além do local para cultos, o templo dispõe de uma cozinha, equipada com geladeira e forno industrial cedida para os voluntários. No local, todas as quartas-feiras, dez mulheres se reúnem para fabricar pães integrais, que são vendidos para os fiéis da igreja e para a comunidade que reside próximo ao templo. Parte do dinheiro obtido com as vendas é utilizada para comprar mais matéria-prima e a outra parte é destinada a ajudar pessoas carentes da região com cestas básicas, remédios ou exames.
Toda quarta-feira, Valdelina sai de casa às 7h30 e só retorna perto das 20h. De ônibus, ela percorre os dez quilômetros que separam sua casa, no bairro Flávio Marques Lisboa, no Barreiro, do local onde ela faz o trabalho voluntário. Na padaria, Valdelina lava as formas dos pães, ajuda na limpeza da cozinha e ainda faz almoço para as colegas que também passam o dia trabalhando no projeto. “A quarta-feira é o dia da alegria. A gente conversa, brinca muito, a turma é muito querida. Esse trabalho faz bem para minha saúde e para o meu dia. A gente se diverte ao mesmo tempo em que ajuda outras pessoas. Queria até que tivesse mais vezes na semana”, afirma a voluntária, que há três meses teve alta dos remédios para depressão.
Em média, o dinheiro dos pães se transforma em 20 cestas básicas por mês e em agosto já beneficiou duas pessoas com a compra de remédios. O objetivo é atender necessidades momentâneas, como foi o caso do autônomo Alisson Dias, auxiliado duas vezes com cestas básicas quando perdeu o emprego, há um ano e meio. “Fui muito bem atendido pelo projeto. Hoje, graças a Deus eu não preciso mais [das cestas básicas] porque as portas estão se abrindo para mim, mas tem muita gente que precisa e esse projeto é o lugar certo para ajudar essas pessoas”, comenta o autônomo.
O voluntariado no Brasil
O relatório “Além do Bem – Um estudo sobre voluntariado e engajamento” realizado com apoio da ONU (Organização das Nações Unidas), há poucos meses, mostrou que 18% dos brasileiros praticam alguma atividade de voluntariado, sendo que as mulheres representam 58% do montante. A mesma pesquisa levantou outro dado muito importante, entre os que não fazem voluntariado. Segundo Jean Soldatelli, da Santo Caos (consultoria responsável pela pesquisa), o brasileiro ainda encara o voluntariado como doação e não como uma troca, o que compromete a participação. “Dois terços dos não voluntários do estudo não o são porque acham que é muito esforço, demanda muita coisa com pouca retribuição. Precisamos mostrar mais o resultado que o voluntariado traz, como a oportunidade de desenvolvimento pessoal e conhecer novas realidades”, aponta.
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