*Cadri Massuda
O
setor de saúde suplementar está há anos-luz da indústria quando o
assunto é controle de desperdício. Enquanto no setor industrial o nível
de excelência é tão alto que a busca do desperdício é feito na casa dos
decimais, na área da saúde estudos calculam desperdícios de 30 a 50% de
recursos financeiros mal utilizados. E não é uma situação vista apenas
no Brasil – está relacionada à forma como foi moldado e como funciona o
sistema de saúde. Portanto, podemos dizer que é uma culpa compartilhada
por todos os envolvidos.
Nosso
modelo de saúde tem vários problemas, como o fato de privilegiar o
especialista em detrimento do médico generalista e ser baseado na
medicina tecnológica. Os desperdícios em diversas escalas tendem a
tornar o sistema insustentável em curto prazo. Essa questão é um
problema cultural, de difícil solução, mas que precisa ser discutida.
Caso contrário, em 20 anos, não teremos mais dinheiro para bancar a
saúde.
A culpa é dos médicos.
Hoje vemos que a medicina tecnológica se sobrepõe à medicina
humanística. Muitas vezes, os pacientes solicitam aos médicos exames
desnecessários. Em outras, para ter segurança, o médico deixa de lado a
história, o exame clínico e apoia suas decisões e condutas em exames de
laboratório desnecessários. A própria tecnologia também contribui nesse
cenário. Os pacientes fazem buscas na internet sobre exames e
procedimentos, levando solicitações ou exigências aos médicos. O que
observamos, entretanto, são índices de normalidade em exames em torno de
90% - que em sua maioria não tinham justificativa para serem
solicitados. O desperdício é comprovadamente muito alto.
A culpa é do cliente. O
pensamento de que médico bom é o que pede exames é cada vez mais comum,
contribuindo para o para o aumento da requisição desnecessária de
exames.
Além
disso, outro grande problema é em relação ao não comparecimento às
consultas. Trabalhamos hoje com um índice de faltas de 25 a 30%. São
consultas às quais o paciente não comparece e não desmarca. O
desperdício também ocorre quando são feitas consultas aos especialistas
sendo que em 90% dos casos um médico generalista resolveria o problema.
A culpa é dos hospitais.
O modelo de remuneração vigente nos hospitais é o de serviço prestado,
não considerando a qualidade do serviço. Existem estudos que mostram uma
possível solução pela remuneração por excelência e resultado. Alguns
países já estão buscando essa mudança realizando pagamentos por pacote.
Os hospitais com melhor resultado ganham um valor maior e os que não se
importam com o resultado consequentemente recebem menos.
A culpa é das operadoras.
Nas operadoras falta uma coisa básica, que é a comunicação das
informações. Então, o indivíduo comparece em um consultório e o médico
solicita diversos exames. Algum tempo depois, outro profissional irá
solicitar novamente os mesmos exames. Poucas empresas possuem sistemas
que interligam essas informações. É um exemplo de algo simples de ser
implantado e que poderia contribuir para diminuir o desperdício.
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