Especialistas reúnem-se para debater sobre a Medicina Personalizada, o caminho sem volta nos tratamentos de tumores e o seu impacto nos sistemas de saúde público e privado
As características pessoais de cada indivíduo e a biologia específica de cada tumor representam hoje as balizas para garantir tratamentos oncológicos com maiores índices de sucesso e que proporcionam melhor qualidade de vida aos pacientes. São vários os benefícios obtidos com os avanços tecnológicos e o conhecimento científico ocorridos nas últimas duas décadas. O cenário mundial e o que já está disponível no Brasil e como os sistemas público e privado podem fazer uso dessa evolução são temas do II Fórum de Medicina Personalizada, que o Instituto Lado a Lado pela Vida realiza em Brasília, no dia 21 de agosto, no auditório da Fiocruz (Campus Universitário Darcy Ribeiro).
O marco inicial para esta revolução na Medicina foi o sequenciamento do genoma humano, que trouxe informações sobre os genes, suas mutações, funções específicas e suas intrincadas vias de sinalização, levando a comunidade médica a compreender melhor a história natural de diferentes tipos de doenças.
“Como consequência, passamos a prevenir, detectar precocemente e tratar o paciente de forma mais acurada, tornando o sonho da Medicina Personalizada uma realidade”, afirma Dr. Marcelo Cruz, oncologista e membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, recém chegado ao Brasil após dois anos de pós-doutorado na Northwestern University, em Chicago (EUA).
Segundo ele, a Medicina Personalizada - ou de precisão, baseia-se em oferecer o tratamento mais adequado utilizando o máximo de informações possíveis sobre as características de cada paciente. “O Projeto do Genoma Humano, finalizado em 2003, possibilitou análises genéticas que auxiliam no melhor entendimento da doença, o que é fundamental para seleção da terapia adequada, otimizando a eficácia do tratamento”, revela Dr. Cruz.
Hoje, pacientes com câncer de mama, ovário, pulmão, melanoma, leucemia e outros tumores, recebem análises moleculares dos tumores com objetivo de definir a terapia-alvo mais aderente ao seu caso. O oncologista fará a abertura do Fórum e abordará, por exemplo, que existem muitas variações dos mecanismos de metabolização de drogas entre os indivíduos e, por isso, o conceito tradicional de utilizar a mesma classe de medicamento em uma dosagem uniforme para todos os pacientes nem sempre é o mais apropriado.
Não se trata de um fato exclusivo da área de Oncologia. Dr. Cruz ressalta que cerca de 40% dos pacientes com depressão, 50% dos pacientes com artrite e 40% dos pacientes com diabetes não respondem ao tratamento inicial. “Isso ocorre porque existem variações nos genes que codificam enzimas metabolizadoras de drogas, agentes transportadores ou alvos dos medicamentos”.
São inúmeros os benefícios da Medicina Personalizada. Entre eles, o oncologista cita a identificação de pacientes de risco e desenvolvimento de estratégias mais eficazes de prevenção e detecção precoce, seleção do tratamento mais adequado com aumento da qualidade de vida e da sobrevida do paciente, minimização de efeitos colaterais, elevação das chances de cura, possibilidade de novos tratamentos para o câncer já em estágio avançado e o grande desafio de impactar na redução dos custos com a saúde.
Medicina Personalizada no SUS e no Sistema Privado: sonho possível
Atualmente, o Sistema Único de Saúde baseia-se no modelo tradicional, oferecendo o mesmo tratamento a todos os pacientes, seja qual for a doença. Esta forma de atendimento vem limitando a incorporação de novas tecnologias e tratamentos avançados, além de custar caro para o País. A mudança de paradigma trazida pela Medicina Personalizada abre a discussão da importância de identificar os pacientes que realmente precisam de tratamentos avançados.
“A Medicina Personalizada tem potencial para reduzir o custo relacionado à saúde globalmente”, diz Dr. Cruz. Segundo uma pesquisa publicada na Asco (American Society of Clinical Oncology), ao utilizar um medicamento que funciona para todos, o custo semanal de um paciente com câncer é de US$ 3.501, enquanto com a Medicina Personalizada essa despesa é reduzida para US$ 3.204.
“Não há dúvida de que a individualização dos tratamentos transformará o cenário da saúde no Brasil, não somente no que se refere ao Sistema Único de Saúde (SUS), como também no impacto que terá para a viabilidade econômica dos planos de saúde. Sem falar nas decisões de investimentos em P&D que a indústria farmacêutica e de equipamentos planejará”, finaliza Marlene Oliveira, presidente do Lado a Lado pela Vida.
Programação
Além de Marlene Oliveira e Marcelo Cruz, marcarão presença no II Fórum de Medicina Personalizada os oncologistasArilto Eleutério da Silva Júnior; Fernando Costa Santini e Igor Morbeck; além da patologista Katia Ramos M. Leite e do geneticista Rodrigo Guindalini. Representando a Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), estará presente Sandro Martins, e Vania Cristina Canuto Santos, participará pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, ambos do Ministério da Saúde, para discutir como será possível abrir caminho para uma gestão da saúde coerente com os avanços que a medicina proporciona para os tratamentos de câncer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário