Cannabis no Brasil
O uso terapêutico da cannabis já é uma realidade no Brasil: mais de 78 mil unidades de produtos à base da planta foram importadas pelo país desde que a Anvisa autorizou que este material rico em canabinoides chegassem ao território a partir de janeiro de 2015.
Atualmente, cerca de 1000 médicos são prescritores, um número que poderá crescer exponencialmente a partir da informação e capacitação dos profissionais da área -- a RDC 17/15 da Anvisa permite a importação de medicamentos à base de cannabis através de prescrição médica. De acordo com dados fornecidos pela agência reguladora, até o momento foram recebidos 6.650 pedidos, tendo sido emitidas 6.339 autorizações de importação de produto a base de Canabidiol. Ao todo, 4.236 pacientes receberam autorização para importação. As prescrições foram expedidas por 34 especialidades diferentes, sendo as principais: Neurologia; Psiquiatria; Neuropediatria; Radiologia; Clinica Medica; Neurocirurgia; Reumatologia; Pediatria; Ortopedia e Cirurgia Geral. Entre os diagnósticos principais estão: Epilepsia; Autismo; Doença de Parkinson; Dor crônica; Neoplasia maligna; Transtornos Ansiosos; Transtorno de tecidos moles; Paralisia cerebral; Esclerose múltipla e Transtorno Depressivo .
O Brasil possui mais de 200.000.000 de habitantes e uma expressiva carência de médicos com experiência em cannabis. Hoje, discute-se a regulamentação para a produção local, além da distribuição, da pesquisa e do uso terapêutico da cannabis e seus derivados. Esse passo está sendo ansiosamente aguardado por milhares de famílias que precisam da substância e cultivam a esperança de uma vida melhor. Dra. Carolina Nocetti, diretora médica da ABMedCan, com experiência no uso de canabinoides em LosAngeles/Califórnia e no Brasil, ressalta que um dos maiores problemas enfrentados pelos pacientes: a expressiva carência de médicos com experiência no uso terapêutico de canabinóides. “A segurança e a efetividade do uso de canabinoides em doenças crônicas de difícil controle como autismo, doença de Alzheimer, epilepsia refrataria, esquizofrenia e dor neuropatia reafirmam a necessidade de entender o potencial terapêutico do uso de cannabis medicinal na pratica clinica”, explica a médica.
Cannabis no mundo
Apesar de ser tão perseguida no mundo inteiro – precisamente, a partir do início dos anos 1930, quando acabou a Lei Seca, que proibia o consumo do álcool nos Estados Unidos – a cannabis sativa L. (ou maconha, como é popularmente conhecida no Brasil) é um dos mais antigos remédios utilizados pela humanidade. O registro mais remoto é de cerca de 4.000 anos antes de Cristo, na China; a primeira evidência de sua utilização médica data de 2.737 a.C., quando o imperador chinês Shen Nung, também descobridor do chá e da efedrina, descreveu suas propriedades terapêuticas num compêndio de ervas medicinais. Na medicina ocidental, a introdução da erva ocorreu em 1839, quando o médico-cirurgião britânico William O’Shaughnessy, que trabalhou na Índia, apontou as propriedades analgésicas, estimuladoras de apetite, inibidoras de vômito, relaxantes musculares e anticonvulsivantes da cannabis. Entre os adeptos nesse período estava a Rainha Vitória, da Inglaterra, que utilizava a planta para o alívio de suas dores menstruais. Em 1854, a cannabis era listada na farmacopéia dos EUA e vendida nas farmácias de diferentes países, permanecendo assim por mais de cinco décadas. Até a sua proibição.
Nas últimas décadas do século XX, no entanto, as propriedades medicinais da cannabis começaram a ser pesquisadas e comprovadas cientificamente. Desde então, os estudos não param, assim como o uso terapêutico, com resultados comprovados para uma série de diferentes doenças.
A cannabis tem mais de 400 compostos ativos, os principais responsáveis pelos efeitos terapêuticos são classificados como canabinoides, uma classe de componentes naturais biologicamente ativos, provenientes de cânhamo ou cannabis. Os dois principais canabinoides são o CBD e o THC. Produtos ricos em THC têm sido usados para dor, náusea e perda de apetite causada por câncer avançado e no tratamento da doença de Parkinson. O canabidiol é utilizado em doenças como epilepsia refratária, autismo, doença de Alzheimer, dor crônica, doença de Crohn, entre outras. Os seres humanos também produzem canabinoides por meio do sistema endocanabinoide que modula diversas funções fisiológicas como sono, apetite e humor.
Sobre os pesquisadores:
De 1975 a 1982, o brasileiro Elisaldo Carlini e o israelense Raphael Mechoulam uniram seus grupos de pesquisa para a produção de cinco artigos científicos. Os estudos revelaram as poderosas propriedades antiepilépticas do canabidiol – um dos principais compostos da cannabis, o qual é usado atualmente por milhares de pessoas epilépticas em todo o mundo.
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