Câncer de Próstata: inimigo número 1 dos homens
Oncologista de Campinas debate em Houston, nos EUA, a evolução e as novidades no tratamento do tumor. Estima-se que 2018 chegou na marca dos 68 mil casos novos
Embora o câncer de próstata se mantenha como o maior inimigo oncológico dos homens, as descobertas recentes têm mudado a história natural da doença e permitido que mais pacientes se curem ou vivam mais tempo com excelente qualidade. Esse foi o tema do encontro mundial de especialistas em Houston, no estado do Texas, nos EUA, realizado no mais importante complexo hospitalar oncológico do mundo, o MD Anderson Câncer Center. Em busca de inovações, o oncologista clínico de Campinas/SP, Vinícius Conceição, do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, participou do encontro e trouxe novidades em medicamentos com eficácia comprovada que retardam a evolução da doença em estádio mais avançado e tem melhorado a qualidade de vida dos pacientes.
Na reunião, mediada pela oncologista Eleni Efstathiou, uma das maiores especialistas no assunto no mundo, os participantes puderam trocar experiências e discutir casos, além de debaterem sobre as opções de tratamentos do tumor que é o segundo câncer mais comum no Brasil (atrás somente do câncer de pele).
“Estudos com novas drogas se mostraram eficazes e com efeitos colaterais bem toleráveis, além de serem tomados na forma de comprimidos, liberando o paciente da necessidade de ficar longos períodos em clinicas oncológicas para receber medicação na veia. Dois desses medicamentos são Abiraterona e Enzalutamida. Eles se mostraram capazes de interromper o crescimento tumoral naqueles pacientes que já tinham falhado à quimioterapia e, posteriormente, foi comprovado o benefício em fases mais iniciais da doença metastática. Essas duas drogas aumentam o tempo de vida e claramente melhoram a qualidade de vida dos pacientes, mesmo naqueles com maiores volumes de doença. Aqui no Brasil, elas são cobertas pelos planos de saúde e já são amplamente usadas. No entanto, não estão disponíveis para tratamento pelo Sistema Único de Saúde, o que ainda impede o acesso a terapias mais modernas e eficazes pelas pessoas mais humildes”, conta o médico.
Ainda no quesito medicamentos, recentemente foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) uma nova medicação chamada Apalutamida para o tratamento dos tumores prostáticos que não estão respondendo ao bloqueio convencional da testosterona, mas ainda sem metástases.
“Aparentemente, quanto mais cedo iniciamos o tratamento com esse medicamento, melhores são os resultados. Outra droga, a Enzalutamida também mostrou eficácia nesse contexto mais precoce de doença. Estão em andamento estudos com Apalutamida também na doença metastática. Outros medicamentos como o Radium 223, melhoram muito as dores causadas pelas metástases ósseas e também aumentam o tempo de vida dos pacientes”, explica o oncologista.
De acordo com o Dr. Vinicius, até poucos anos atrás os tratamentos para câncer de próstata estavam restritos aos procedimentos invasivos ou com muitos efeitos colaterais, e, na doença avançada, com metástases, existiam poucas opções de tratamento. “As cirurgias para ressecção da próstata eram mais agressivas e com maiores riscos e a radioterapia com técnicas mais obsoletas causavam muitos efeitos colaterais que podiam comprometer a qualidade de vida do indivíduo curado. Hoje, as cirurgias minimamente invasivas estão se tornando cada vez mais frequentes, ou por via laparoscópica ou cirurgia robótica, que diminuem os riscos de complicações, além do tempo de internação”, explica.
Outro fator muito importante, segundo o oncologista, é o avanço tecnológico aplicado aos aparelhos. “Isso permitiu à radioterapia disponibilizar tratamentos mais seguros e menos traumáticos. Alguns equipamentos são até mesmo capazes de redirecionar o feixe de radiação de acordo com os movimentos respiratórios do paciente”, conta.
Dados
O câncer de próstata é a neoplasia mais comum nos homens, no Brasil (sem considerar os tumores de pele não melanoma) e o segundo câncer que mais mata. Pelos dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), foram estimados mais de 68 mil casos novos em 2018, com mais de 14 mil mortes relacionadas à doença. Sua incidência é maior em países desenvolvidos e vem aumentando, em todo mundo, na última década, por conta das melhores técnicas de diagnóstico e maior expectativa de vida. O principal fator de risco é a idade. Mais de 75% dos diagnósticos acontecem após os 65 anos.
*Vinícius Correa da Conceição é oncologista graduado pela Unicamp, visiting fellow no serviço de oncologia do Instituto Português de Oncologia (IPO). Médico assistente da Oncologia da Unicamp, com função docente junto aos graduandos da medicina e residentes da disciplina de oncologia. Como membro do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, Vinícius é oncologista do Hospital Vera Cruz, no Instituto Radium de Campinas e do Hospital Santa Tereza. Membro titular da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO).
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