CRISE EXISTENCIAL: QUEM
NUNCA TEVE?
Por Prof. Dr. Mario
Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg,
Alemanha. Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo (CRMSP 34330)
Seja aos
18 ou aos 40 anos, quem nunca se questionou sobre sua vida: será que estou
feliz no trabalho? Será que estou com a pessoa certa? Será que quero ter
filhos? Ao longo de milhares, talvez milhões de anos, a espécie humana adquiriu
a capacidade de refletir sobre si e o ambiente. O homem se deu conta de sua
existência, percebeu que nasce, se desenvolve, envelhece e morre. Ao longo de
sua existência, o homem se questiona e busca respostas para o fenômeno da vida,
especialmente de sua vida.
De modo
geral, os questionamentos encontram respostas que o tranquilizam e o homem
segue sua trajetória relativamente feliz consigo mesmo. Eventualmente, porém,
algumas questões não encontram respostas ou a vida lhe apresenta uma situação
que o leva a uma reflexão mais profunda, e ele se sente diante de uma
encruzilhada, devendo decidir qual direção tomar. Muitas vezes a escolha é
dolorosa. Um bom exemplo se encontra no filme “A escolha de Sofia”, de 1982.
Sofia (Meryl Streep), presa num campo de concentração nazista, é obrigada a
escolher qual de seus dois filhos será morto. Se recusasse escolher, ambos
seriam executados.
Uma crise
existencial não é considerada propriamente uma doença ou um diagnóstico médico.
Envolve, em geral, uma situação-limite para a pessoa, um questionamento sobre
algum aspecto profundo e essencial de sua existência. Difere claramente de uma
crise situacional, como um divórcio, por exemplo, ou uma crise inerente às
diversas etapas da vida (adolescência ou meia-idade). Crises situacionais podem
convergir e se aprofundar a ponto de se tornarem uma crise existencial. Quando
ela se aprofunda, a pessoa pode vir a desenvolver uma depressão, que requer
cuidado médico especializado.
As crises
e adversidades da vida ocorrem de modo quase sempre imprevisível; a forma de
lidar com a crise dependerá, em boa parte, da capacidade de resiliência da
pessoa, em última análise de sua personalidade. Se a crise é muito intensa ou a
pessoa tem pouca resiliência, ela precisará de ajuda profissional para lidar
com a adversidade e desenvolver seu potencial de resiliência, de modo a ficar
mais preparada para uma possível nova crise que a vida possa trazer. Psicoterapias,
especialmente a Psicanálise, proporcionam a possibilidade de desenvolvimento
pessoal, a partir da investigação do modo de ser da pessoa. A medida que a
pessoa amplia e aprofunda o conhecimento de si mesma, passa a dispor de novos
instrumentos para lidar melhor com as crises e dúvidas inevitáveis durante a
vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário