Oftalmologistas
encontraram evidências de hemorragia na retina, desenvolvimento de
vasos sanguíneos anormais e lesões em crianças nascidas de mães que
apresentaram sinais de infecção viral durante a gravidez
Pesquisadores
que estudam os bebês com defeitos de nascença relacionados com o vírus
Zika dizem ter encontrado problemas oculares anteriormente não
declarados possivelmente ligados ao vírus que podem resultar em
deficiência visual grave. Em três crianças brasileiras com microcefalia,
os pesquisadores observaram lesões na retina, hemorragia e
desenvolvimento anormal dos vasos sanguíneos não observados antes em
relação ao vírus. Os resultados foram publicados on-line na Ophthalmology, revista da Academia Americana de Oftalmologia.
O vírus Zika é conhecido por causar microcefalia, um defeito de nascença marcado por um menor diâmetro da cabeça e do cérebro.
No Brasil, o local do surto mais grave, quase 1,5 milhões de pessoas
supostamente têm o vírus. Cerca de 4.000 crianças recentemente nasceram
com microcefalia, de acordo com os informes oficiais.
Como resultado, a Organização Mundial de Saúde declarou a situação uma
emergência de saúde pública, em fevereiro, trazendo à tona a urgência e a
necessidade de mais pesquisas.
“Um estudo prévio
com 29 bebês brasileiros com infecção congênita causada pelo Zika
mostrou que um terço tinha problemas de visão: lesões oculares,
anormalidades do nervo óptico e atrofia coriorretiniana, um definhamento
da retina e da coroide, responsável por fornecer oxigênio e nutrientes
para a retina”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Para
este estudo de caso, os pesquisadores brasileiros e da Universidade de
Stanford examinaram os olhos de três meninos nascidos, no Brasil, no
final de 2015, com microcefalia. Todos tinham mães com suspeita de
infecção por vírus Zika durante o primeiro trimestre da gravidez. Entre
as conclusões, os pesquisadores identificaram vários tipos de problemas
oculares não previamente observados em relação ao vírus Zika, alguns dos
quais podem causar deficiência visual grave se não tratada. Dentre
esses problemas, destacam-se:
· Retinopatia hemorrágica ou hemorragias na retina, a camada sensível à luz que reveste a parte posterior do olho;
· Vasculatura anormal na retina, incluindo sinais de falta de vasos sanguíneos na retina, onde as células podem ter morrido;
· Maculopatia
torpedo, identificada por lesões em forma de torpedo na mácula, a parte
central da retina. Embora as lesões da retina tenham sido observadas em
trabalhos anteriores sobre achados oculares relacionadas com o Zika, os
autores observam que esse tipo de lesão não foi observada em casos de
microcefalia.
“Além dessas observações, os lactentes neste estudo também exibiram outros sintomas oculares observados no estudo prévio. Especificamente,
todos os três bebês neste estudo de caso mostraram sinais de
maculopatia pigmentada, lesões que aparecem como manchas de pigmento na
mácula. Quatro olhos apresentaram sintomas de atrofia coriorretiniana
marcada por um anel pigmentado”, afirma a neuro-oftalmologista do IMO, Márcia Lucia Marques (CRM-SP 110.583).
O
estudo é pequeno, com dados de observação limitados. No entanto, os
resultados adicionam corpo a um crescente número de informações clínicas
sobre como o vírus Zika pode afetar o desenvolvimento do olho infantil e
a visão. Os autores notaram que ainda não está claro se a infecção
viral em si provoca anomalias oculares ou se elas são uma consequência
da microcefalia induzida pelo Zika.
“Os
problemas oculares encontrados, agora, não foram associados com o vírus
Zika antes. O próximo passo é diferenciar os resultados relacionados
com o próprio vírus Zika contra os resultados causados pela
microcefalia, de forma a compreender melhor quais as crianças precisam
ser rastreadas para essas novas moléstias”, diz Márcia Lucia Marques.
Neste
momento, os autores estão chamando todos os bebês com microcefalia em
áreas atingidas pelo Zika para serem examinados por um oftalmologista.
Essa atitude segue a recomendação recente dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.
“Os
profissionais de saúde em regiões endêmicas para a infecção pelo Zika
são aconselhados a submeter todos os recém-nascidos com microcefalia a
exames de retina. O processo pode contribuir significativamente para a
nossa compreensão sobre a infecção e para a qualidade de vida dessas
crianças”, afirma a neuro-oftalmo.
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