Para
o neurocirurgião Luiz Daniel Celt, um dos legados das Olimpíadas do Rio
de Janeiro-2016 é o incentivo à prática esportiva, inclusive de
pacientes com epilepsia
Toda e qualquer mudança de hábito é benéfica para o ser humano. Ideal quando positiva e se relacionado a comportamentos saudáveis, seja de ordem alimentar, física, emocional ou espiritual. O início de uma atividade esportiva é uma delas. Sempre recomendável, mas com indispensável acompanhamento médico. Para o neurocirurgião Dr. Luiz Daniel Cetl, da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e especialista em epilepsia, a máxima vale também para pacientes com a doença. “Geralmente, eles são rodeados de dúvidas, tabus e falta de informação adequada. A mídia propaga muito os grandes eventos esportivos mundiais e é evidente que isso influencia. Toda atividade física faz bem para a saúde e, exceto casos mais críticos, não há contraindicação”, diz Cetl.
A
realização das Olímpiadas do Rio de Janeiro 2016 já impacta na procura
por academias e escolinhas poliesportivas que sugerem preparar novos
“atletas”. Há de fato uma procura mais acentuada, que antecede aos Jogos
e é muito mais identificável durante o período do evento. Algumas
pesquisas apontam para este aumento, tanto na busca por hábitos
esportivos saudáveis como no fortalecimento da inclusão social das
pessoas portadoras de necessidades especiais.
A
epilepsia é uma doença neurológica, caracterizada por descargas
elétricas anormais e excessivas no cérebro, recorrentes e que geram
crises epilépticas. Não é segredo que o portador de epilepsia,
historicamente, sofre preconceitos e estigmas, com reflexos prejudiciais
no âmbito social e psicológico. O contraponto disso pode ser o
incentivo ao esporte, atividade que auxilia na melhora física, emocional
e na sociabilidade, seja para o esportista profissional, de alto
impacto, seja para o amador.
O
indivíduo com epilepsia pode e deve ser inserido completamente na
sociedade: trabalhar, estudar, praticar esportes, se divertir, casar,
ter filhos, etc. “É importante ter o acompanhamento de um especialista
antes de iniciar um programa de atividade física ou esportiva. Exemplos
de atletas com epilepsia não faltam e, muitos deles, participam
inclusive de campanhas mundiais de sensibilização e incentivo”, relata o
médico.
Para Dr. Luiz Daniel Cetl,
a informação correta também ajuda a desmistificar a relação epilepsia x
atividade física x esporte. Para isso, é preciso ter em mente alguns
itens básicos, como:
- Exercício físico não tem contraindicação para pacientes com epilepsia;
- O paciente com epilepsia, seja ele “atleta” amador ou profissional e de alto rendimento, não tem maior ou menor desgaste físico durante atividade;
- Não há relação do estresse (adrenalina) da atividade física com crises epilépticas;
- Traumas, contusões na cabeça, etc. podem acontecer em qualquer modalidade Olímpica. Nos esportes coletivos, como basquete, futebol, handebol, etc., a probabilidade é maior. Neste sentido, dependendo da intensidade e da lesão produzida com o choque, pode ser uma condição para surgimento de epilepsia. Mas cada caso deve ser avaliado por um especialista;
- No caso dos atletas profissionais, as medicações anticonvulsivantes ou anti epilépticas não interferem no rendimento físico. Apesar da preocupação com os exames antidoping, muitos desses medicamentos não aumentam o desempenho do atleta; ao contrário, provavelmente ocorra um baixo desempenho, dado o princípio ativo “desestimulante”;
Conforme explica o neurocirurgião, estas são apenas algumas informações essenciais para o portador de epilepsia que quer praticar alguma atividade física e/ou esportiva. O médico ressalta que ainda é preciso fazer muito para desmitificar essa doença que atinge mais de 50 milhões de pessoas no mundo, e cerca de 3 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
“O principal é ter uma boa orientação para a prática segura de qualquer atividade física. O esporte previne, trata doenças – como a hipertensão - e melhora a qualidade de vida de muitos pacientes. Se as Olimpíadas impulsionam o desejo da prática, nós médicos temos que ser os primeiros a apoiar”, conclui o membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN).
Fonte para entrevista:
Dr. Luiz Daniel Cetl
é referência no tratamento das epilepsias e tumores cerebrais.
Especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), membro do
grupo de tumores do Departamento de Neurocirurgia da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP) e integrante da Associação dos
Neurocirurgiões do Estado de São Paulo (SONESP). Atua ainda como
preceptor de cirurgia de tumores cerebrais no Departamento de
Neurocirurgia da Unifesp.
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