Por Prof. Dr. Mario
Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg,
Alemanha. Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo (CRMSP 34330)
Vício,
seja ele químico (provocado por droga, álcool, tabaco e até medicamento) ou
comportamental (jogo, compras, sexo ou internet), se caracteriza por uma
compulsão, ou seja, um ato sem controle por parte da pessoa, muitas vezes
percebido como um ato indesejado.
O vício (ou
dependência) apresenta três aspectos: o desejo intenso (“fissura” ou “craving”)
pelo elemento do vício; a abstinência, com sintomas como ansiedade; agitação;
irritabilidade devido à falta do elemento do vício; e tolerância, quando a
pessoa precisa de doses cada vez mais altas (ou atos cada vez mais intensos ou
frequentes) para obter a mesma sensação de prazer.
A pessoa
pode se viciar em algo quando, ao experimentar o elemento (tomar uma droga,
jogar), o cérebro ativa um circuito neuronal chamado “sistema de recompensa”. A
estimulação repetitiva deste circuito retroalimenta o desejo de estimulá-lo,
gerando o vício.
Aspectos
psicossociais e culturais podem influenciar o comportamento da pessoa viciada
(dependente), perpetuando o círculo vicioso da dependência, seja química ou
comportamental.
Os
princípios gerais do tratamento de vícios são parecidos. A primeira conduta é obter
a “abstinência”, o que não é fácil, pois a síndrome de abstinência gera uma
sensação de total desconforto pela falta do elemento. A vontade incontrolável de
tê-lo novamente pode fazer com que ele o busque a qualquer custo, se não
estiver 100% empenhado no tratamento.
Nos
primeiros dias da privação, a pessoa pode se sentir ansiosa, inquieta, insone,
depressiva e irritável. Se os sintomas de abstinência (química) forem muito intensos,
é possível que o médico indique medicações para aliviar o mal-estar ou até
mesmo uma internação em uma clínica especializada (que dará segurança ao
dependente e apoio 24 horas por dia). O período mais difícil de abstinência
dura cerca de semanas, até que a pessoa esteja “desintoxicada”.
Abordagens
psicoterápicas são utilizadas para auxiliar o dependente a lidar com a ausência
do elemento do vício. A psicoterapia pode ajudá-lo também a entender a origem
do vício, como lidar com os fatores que podem ter gerado este problema e quais
alternativas adotar para se livrar do vício. É importante que os familiares se
envolvam com o tratamento, que participem das orientações e/ou que façam psicoterapia
familiar, que ajudará a própria família a entender melhor o problema e a lidar
com o dependente da forma mais acolhedora possível.
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