“Acusação a uma atriz” tem como ponto de partida o “caso Aimée”, estudado pelo psicanalista francês
Após circular por cidades paulistas, percorrendo mostras e festivais, o espetáculo teatral “Acusação a uma atriz”, desembarca na capital para uma curta e inédita temporada, de 5 a 27 de abril, sempre às quartas e quintas-feiras, às 20h, no recém-inaugurado Teatro de Contêiner Mungunzá, no centro de São Paulo. A MiniCia Teatro, formada pelas atrizes Clara de Cápua, Heidi Monezzi e Mariza Junqueira, é o primeiro grupo de teatro convidado pela Cia. Mungunzá para se apresentar no novo espaço.
“Acusação a uma atriz”, encenado pelas atrizes Clara de Cápua e Heidi Monezzi, tem como ponto de partida o “caso Aimée”, estudado pelo psicanalista Jacques Lacan em sua tese de doutorado “Da Psicose Paranóica em suas Relações com a Personalidade”. Aimeé é o nome com o qual Lacan rebatiza sua paciente, Margueritte Anzieu, presa e internada após tentar esfaquear uma importante atriz da época, Huguette Duflos, por crer que Duflos a perseguia e participava de um complô para assassinar seu filho. Num longo relato clínico, Lacan demonstra como Margueritte era atravessada, desde cedo, por um sentimento de deslocamento em relação aos papéis femininos que seu meio lhe impunha, e cultivava um misto de ojeriza e fascínio pelas chamadas “mulheres do mundo”: atrizes e mulheres de letras que representavam simultaneamente seu objeto de ódio e seu ideal inconfesso.
Dirigida por Mariza Junqueira, a encenação da peça privilegia o jogo de duas atrizes que se desdobram em diferentes funções, assumindo e abandonando figuras na medida em que estas lhe convêm para dar realidade à história de Aimée. Com um leque de personagens à disposição, como a própria Aimée, a grande atriz Sra. Z, a Irmã, a Mãe, a melhor amiga Srta. C. de La N, entre outros papéis femininos, o jogo explora a noção de paranoia não apenas como eixo temático, mas também como princípio de construção formal. A mobilidade das convenções que se erguem e desabam diante do espectador procura remontar o drama persecutório de Aimée, e por meio dele suscitar um possível reconhecimento de uma dimensão delirante na realidade de cada um.
A peça “Acusação a uma atriz” estreou em 2014, no Centro Cultural Leny de Oliveira Zurita, na cidade de Araras, em São Paulo. Logo depois, foi selecionado para o XXI FENTEPP - Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente, para a XI Mostra de Artes Cênicas de Jacareí e para o XI Festival Nacional de Teatro de Limeira.
SINOPSE
Em uma noite parisiense da década de 30, Aimée se desvia de seu caminho, compra um facão e vai ao teatro com o propósito de assassinar uma atriz da época, a célebre Sra. Z - história real. Em uma noite qualquer, de outro tempo, uma atriz sobe ao palco em busca do papel de Aimée, quando então se vê frente à outra, uma rival, com quem terá que jogar para conseguir representá-lo. Ficção e realidade se misturam numa construção paranoica.
“Acusação a uma atriz” apresenta, através de um jogo de ataque, perseguição e espelhamento das atrizes, os principais episódios da vida de Aimée que desembocaram no atentado: sem jamais conseguir se encaixar nas circunstâncias que a vida lhe reservara – esposa, mãe e funcionária pública –, ela passa a acreditar ser vítima de um complô para impedi-la de desempenhar o verdadeiro papel que lhe cabe. O desenrolar dos episódios aponta Aimée como sofredora de uma paranoia de autopunição: ao atacar a atriz, ela teria buscado dilacerar a si mesma, ao ideal de eu pelo qual se sentia subjugada. Até quando uma mulher é capaz de representar?
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