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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Cigarro, milhões de mortes e prejuízos financeiros trilionários


Por Pablo Roig, médico psiquiatra especialista em dependência química e diretor da Clínica Greenwood

A cada minuto disposto na leitura deste artigo, treze pessoas serão vítimas fatais do tabaco no mundo de acordo com as estatísticas. O cigarro é único produto legalizado que mata até metade dos seus consumidores, cientes das contraindicações dispostas pelos fabricantes nas embalagens. No início deste século, há menos de vinte anos, quatro milhões de pessoas morriam por ano, em nível mundial. A tendência só aumenta e mais de 19 mil pessoas morrem por dia em decorrência de doenças causadas pelo fumo. São 7 milhões de pessoas por ano num contexto no qual aproximadamente 67% dessas mortes poderiam ser evitadas.

Infelizmente, o cenário não muda porque as pessoas ainda insistem pela compra do adoecimento e morte em padarias e supermercados. Nas Américas, há outro dado assustador que indica o cigarro como causa de 70% das mortes prematuras, ou seja, entre a faixa etária de 30 e 69 anos. E o tabaco mata 6 milhões de pessoas anualmente em todo o mundo se consideramos os fumantes passivos. O cigarro será responsável por oito milhões de mortes até 2030 se a tendência de consumo permanecer.  

Por muito tempo, a inverdade de que o cigarro não traz malefícios para a saúde dos usuários imperou, como é visto no filme O Informante. A história demonstra como as indústrias do cigarro, que ganham enormes fortunas com a venda, negam as consequências do tabaco tais quais dependência química e doenças responsáveis por milhares de mortes. Se assim o fosse, o custo para o tratamento de saúde das pessoas por causa do cigarro não chegaria a U$ 33 bilhões somente na América Latina. 

Essas são algumas consequências da presença de quase cinco mil substâncias tóxicas no cigarro que entram no organismo da pessoa a cada tragada. E diga-se que a composição final do cigarro não tem somente metais, alcatrão e gases como monóxido de carbono. Há também pesticidas que visam o tratamento das folhas de tabaco para evitar a destruição da lavoura do fumo por insetos e, até mesmo, animais. 

O tabaco gera dependência química porque a nicotina aumenta os níveis de dopamina na chamada zona de recompensa do cérebro, área responsável pela sensação de prazer duma pessoa. Se há uma sensação prazerosa, eleva-se os níveis de dopamina no cérebro. Um ato sexual ocasiona o crescimento da presença de dopamina em 100% no cérebro, já a nicotina acrescenta uma dose de 250%. A sensação de bem-estar é avolumada por causa do cigarro e isto causa a dependência. 
Quando um cigarro é aceso, a menor parte da fumaça é tragada pelo fumante. Cerca de 70% da fumaça decorrente da queima é lançada no ambiente pelo produto. Saem pela ponta do cigarro uma quantidade de substâncias nocivas muito maior se comparado àquelas que deixam o tabaco pelo filtro. Milhares de substâncias, muitas vezes tóxicas e cancerígenas, são dispersadas no ambiente e este é um dos motivos que levam a proibição do fumo em ambientes fechados.

O fato curioso é que a poluição tabagística ambiental contém praticamente a mesma composição da fumaça tragada pelo fumante. Mas o volume de nicotina, monóxido de carbono presente no local se torna superior na ordem de três vezes em relação ao que é ingerido pelo usuário. Ressalta-se, são três vezes mais de um composto que possui cerca de cinco mil substâncias tóxicas, agrotóxicas e cancerígenas.
Um dos piores cenários dos prejuízos do tabaco à vida humana é observada na gravide cuja a existência dos filhos é, frequentemente, interrompida antes do nascimento. Aborto espontâneo e síndrome da morte súbita estão entre as consequências do consumo de cigarro. O fumo pelas mães também prejudica a chegada de oxigênio nos pulmões da criança que pode ter taquicardia. Há casos de bebês prematuros com peso abaixo do ideal os quais ficam vulneráveis à diferentes tipos de doenças e três vezes mais expostos a distúrbios neurológicos. 

A Organização Mundial de Saúde prevê U$ 1,4 trilhão de gastos em saúde por todo o globo em pouco mais de uma década. A declaração de impostos sobre a venda de cigarros não cobre nem a metade dos custos da assistência médica para o tratamento de doenças relacionadas ao tabaco no Brasil. O país tem gastos diretos de U$ 12 bilhões, quase R$ 40 bilhões, com despesas médicas voltadas para as pessoas que adoecem “voluntariamente” através do consumo de tabaco. Enquanto isso, milhões de mortes e prejuízos trilionários na gestão pública da saúde são as consequências do único produto no qual metade das pessoas que o adquire estão cientes das doenças ocasionadas por causa da composição química do tabaco.


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