Por Pablo Roig, médico psiquiatra especialista em dependência química e diretor da Clínica Greenwood
A
cada minuto disposto na leitura deste artigo, treze pessoas serão
vítimas fatais do tabaco no mundo de acordo com as estatísticas. O
cigarro é único produto legalizado que mata até metade dos seus
consumidores, cientes das contraindicações dispostas pelos fabricantes
nas embalagens. No início deste século, há menos de vinte anos, quatro milhões de pessoas morriam por ano,
em nível mundial. A tendência só aumenta e mais de 19 mil pessoas
morrem por dia em decorrência de doenças causadas pelo fumo. São 7 milhões de pessoas por ano num contexto no qual aproximadamente 67% dessas mortes poderiam ser evitadas.
Infelizmente,
o cenário não muda porque as pessoas ainda insistem pela compra do
adoecimento e morte em padarias e supermercados. Nas Américas, há outro
dado assustador que indica o cigarro como causa de 70% das mortes
prematuras, ou seja, entre a faixa etária de 30 e 69 anos. E o tabaco
mata 6 milhões de pessoas anualmente em todo o mundo se consideramos os
fumantes passivos. O cigarro será responsável por oito milhões de mortes até 2030 se a tendência de consumo permanecer.
Por muito tempo, a inverdade de que o cigarro não traz malefícios para a saúde dos usuários imperou, como é visto no filme O Informante.
A história demonstra como as indústrias do cigarro, que ganham enormes
fortunas com a venda, negam as consequências do tabaco tais quais
dependência química e doenças responsáveis por milhares de mortes. Se
assim o fosse, o custo para o tratamento de saúde das pessoas por causa
do cigarro não chegaria a U$ 33 bilhões somente na América Latina.
Essas
são algumas consequências da presença de quase cinco mil substâncias
tóxicas no cigarro que entram no organismo da pessoa a cada tragada. E
diga-se que a composição final do cigarro não tem somente metais,
alcatrão e gases como monóxido de carbono. Há também pesticidas que
visam o tratamento das folhas de tabaco para evitar a destruição da
lavoura do fumo por insetos e, até mesmo, animais.
O
tabaco gera dependência química porque a nicotina aumenta os níveis de
dopamina na chamada zona de recompensa do cérebro, área responsável pela
sensação de prazer duma pessoa. Se há uma sensação prazerosa, eleva-se
os níveis de dopamina no cérebro. Um ato sexual ocasiona o crescimento
da presença de dopamina em 100% no cérebro, já a nicotina acrescenta uma
dose de 250%. A sensação de bem-estar é avolumada por causa do cigarro e
isto causa a dependência.
Quando
um cigarro é aceso, a menor parte da fumaça é tragada pelo fumante.
Cerca de 70% da fumaça decorrente da queima é lançada no ambiente pelo
produto. Saem pela ponta do cigarro uma quantidade de substâncias
nocivas muito maior se comparado àquelas que deixam o tabaco pelo
filtro. Milhares de substâncias, muitas vezes tóxicas e cancerígenas,
são dispersadas no ambiente e este é um dos motivos que levam a
proibição do fumo em ambientes fechados.
O
fato curioso é que a poluição tabagística ambiental contém praticamente
a mesma composição da fumaça tragada pelo fumante. Mas o volume de
nicotina, monóxido de carbono presente no local se torna superior na
ordem de três vezes em relação ao que é ingerido pelo usuário.
Ressalta-se, são três vezes mais de um composto que possui cerca de
cinco mil substâncias tóxicas, agrotóxicas e cancerígenas.
Um
dos piores cenários dos prejuízos do tabaco à vida humana é observada
na gravide cuja a existência dos filhos é, frequentemente, interrompida
antes do nascimento. Aborto espontâneo e síndrome da morte súbita estão
entre as consequências do consumo de cigarro. O fumo pelas mães também
prejudica a chegada de oxigênio nos pulmões da criança que pode ter
taquicardia. Há casos de bebês prematuros com peso abaixo do ideal os
quais ficam vulneráveis à diferentes tipos de doenças e três vezes mais
expostos a distúrbios neurológicos.
A Organização Mundial de Saúde prevê U$ 1,4 trilhão de gastos em saúde
por todo o globo em pouco mais de uma década. A declaração de impostos
sobre a venda de cigarros não cobre nem a metade dos custos da
assistência médica para o tratamento de doenças relacionadas ao tabaco
no Brasil. O país tem gastos diretos de U$ 12 bilhões, quase R$ 40 bilhões,
com despesas médicas voltadas para as pessoas que adoecem
“voluntariamente” através do consumo de tabaco. Enquanto isso, milhões
de mortes e prejuízos trilionários na gestão pública da saúde são as
consequências do único produto no qual metade das pessoas que o adquire
estão cientes das doenças ocasionadas por causa da composição química do
tabaco.
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quarta-feira, 6 de setembro de 2017
Cigarro, milhões de mortes e prejuízos financeiros trilionários
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