O
novo modelo empresarial do século 21 vem sendo baseado em trabalhadores
saudáveis, que atuam em organizações sustentáveis. Já se fala em
sustentabilidade empresarial no campo do trabalho. Sustentável, neste
aspecto, é a empresa que se preocupa com a qualidade do ambiente de
trabalho, propiciando condições favoráveis à manutenção da saúde física e
mental de seus empregados.
Contudo,
algumas empresas brasileiras vêm andando na contramão. Segundo dados da
Previdência Social, a síndrome do pânico afastou cerca de 20 mil
pessoas do trabalho entre 2012 e 2017. O transtorno, geralmente
desencadeado por estresse ou propensão genética, causa sintomas de
ansiedade intensa, falta de ar e aceleração dos batimentos cardíacos.
Atualmente, um dos principais fatores que influenciam o desenvolvimento
da doença é um ambiente de trabalho permeado por cobranças intensas,
exageradas e insuportáveis.
Por
meio de formas de gestão obsoletas e indignas, e adotando uma visão
completamente desfocada dos princípios que norteiam a relação de
trabalho, as empresas atuais “coisificam” seus empregados e exploram a
mão de obra além dos limites. Uma das piores e mais nefastas formas de
exploração é a violência psicológica.
A
violência psicológica se faz de diferentes e ilimitadas formas. Assim,
tudo que possa abalar o psiquismo do empregado, causando ou agravando
sua doença mental nesta categoria, se enquadra. Podemos exemplificar
essa situação de violência psicológica com um “padrão gerencial” que vem
literalmente “nocauteando” a mão de obra e trazendo enormes danos ao
psiquismo do trabalhador.
Com
uma cobrança intensa, as empresas exigem resultados impossíveis de seus
trabalhadores, fazendo uso de técnicas levianas e imorais, que até
podem culminar na ameaça do corte demissional. Essa pressão constante,
para o atingimento de metas, leva o trabalhador à verdadeira “loucura”!
Muitos sucumbem com menos de um ano, contraindo em geral, a síndrome do
pânico e depressão.
Neste
cenário, também se destaca a imposição de jornadas muito longas e ritmo
“alucinante” de tarefas. Atualmente, além de fazer muitas horas extras,
o trabalhador ainda é mantido “plugado” ao trabalho, fora de seu
horário, por meio do uso de celulares e computadores. Ao longo dos anos
se tornou popular o chamado “plantão”, que é vedado pela lei, pois entre
um turno e outro de trabalho, há de se ter um intervalo de onze horas.
Certo
é que o crescimento dos índices de adoecimento mental do trabalhador é
um fato que não pode passar despercebido pelos empresários,
trabalhadores e judiciário. Se o cenário da doença do trabalhador era
antes dominado pela Lesão por esforço repetitivo (LER), hoje não mais o
é. A depressão e as doenças de ordem ansiosa, onde se inserem a
Síndrome do Pânico, o estresse pós-traumático e o Transtorno de
Ansiedade Generalizada (TAG), vem “roubando a cena”, não havendo dúvidas
do acréscimo de patologias mentais.
Como
afirmo anteriormente, o modelo empresarial do século 21 não retrata a
realidade do cenário atual. O índice de crescimento no adoecimento
mental do trabalhador é um indício de que as coisas não vão bem, por
isso é preciso que as empresas se conscientizem de que explorar a mão de
obra de maneira abusiva, é um enorme “nonsense”, isso se levarmos em
consideração o alto custo social da reparação destas doenças e os
reflexos negativos que atingem até mesmo o seio familiar. Como registrou
a advogada, Tallita Massuci Toledo, “o empregador não pode se furtar à
sua responsabilidade social de manter condições de saúde e segurança a
seus empregados”.
Acredito
que se os empregadores não se conscientizarem de que são responsáveis
não só pela qualidade da saúde física de seus trabalhadores, mas também
da saúde psicológica dos mesmos, em breve a doença mental decorrente do
trabalho, vai se tornar uma epidemia.
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