Por Francisco Pimenta
Cidades
como São Paulo, Rio de Janeiro, dentre inúmeras outras no nosso país,
possuem histórias longas, pois foram fundadas logo no início da
colonização portuguesa. Isso fez com que muitas das suas construções
sejam antigas, em parte por um uso contínuo desses prédios, e também em
grande parte pela preservação histórica. Claro que os prédios não são
tão velhos quanto a cidade, a maioria data de períodos mais recentes com
algo em torno de 40 ou 50 anos, mas o fator histórico mostra uma
cultura de preservação dos cidadãos, que é muito positiva para a cidade
em termos de turismo, conhecimento e patrimônio cultural.
O
problema é quando esses edifícios, alguns nem tão históricos apenas
antigos, possuem problemas de saúde que não são imediatamente notados,
pois são problemas de saúde estrutural, uma doença da construção, por
assim dizer. Uma delas é a SED, Síndrome do Edifício Doente. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a SED é definida como "um
conjunto de doenças causadas ou estimuladas pela poluição do ar em
espaços fechados". Estes espaços fechados, em sua maioria, são as
grandes edificações as quais começaram a surgir na década de 1970 e hoje
são os lugares onde passamos a maior parte de nosso tempo. Em casos
extremos chegamos a ter construções do fim da década de 1930. Prédios de
serviços públicos ou de empresas mais velhas no centro da cidade, e até
mesmo residências, sãos os principais focos do SED.
É
possível notar essas construções pelo estilo arquitetônico da época,
pelo tamanho, pela ausência de tecnologias que só vieram a surgir mais
adiante, e que não foram atualizadas na construção. No caso de riscos à
saúde é que temos um problema. A SED pode ser percebida quando em pelo
menos 20% dos usuários (ocupantes) destas grandes edifições aparecem
sintomas tais como dor de cabeça, náuseas, ardor nos olhos ou coriza. A
existência da SED só foi reconhecida pela OMS na década de 80, quando
houve uma contaminação coletiva de pneumonia num hotel na Filadélfia, o
que ocasionou a morte de 29 pessoas.
No
Brasil, o caso marcante foi no fim da década de 1990, quando morreu o
então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, em função do agravamento
de seu quadro clínico que, segundo muitos, foi devido à presença de
fungos no ar. Segundo
especialistas no assunto, a SED não provoca doenças, mas pode colaborar
para agravar males em pessoas pré-dispostas ou até mesmo provocar um
estado passageiro. Ou seja, quando estas pessoas saem das edificações
consideradas com SED os sintomas desaparecem.
Bactéria assassina Legionella pneumophila |
Numa
outra linha de raciocínio, a SED pode provocar alguns males (ou
doenças) compartilhados. Um exemplo clássico disso é o caso da já citada
contaminação coletiva no hotel na Filadélfia (EUA) em 1976 pela
bactéria assassina Legionella pneumophila a qual causou uma forma rara e grave de pneumonia.
Um dos grandes problemas é que não temos uma ideia de quantos prédios hoje sofrem disso, nas grandes metrópoles. Este
é um dado difícil de se adquirir, talvez por medo dos responsáveis pela
administração dos prédios e condomínios em passar a informação. Porém,
segundo a própria OMS, pelo menos 30 % das edificações em todo o mundo
sofrem de SED. No Brasil, este número pode chegar a 50 %. São números
alarmantes, mas que não tocam as autoridades competentes,
surpreendentemente.
Talvez
a pergunta mais importante nesse momento, seja: como combater isso? Já
que muito está em risco. Uma das primeiras coisas a se fazer é cuidar
das instalações de ventilação e climatização, como ar condicionado,
desses prédios. Já
ouvi dizerem que o ar condicionado é o culpado desse tipo de situação,
porém isso é um dado enganoso. O equipamento só é causa quando o mesmo
foi mal dimensionado, mal projetado, mal instalado e muito mal mantido.
Podemos citar vários outras causas importantes da SED tais como acúmulo
de poeira, grande presença de VOC (compostos orgânicos voláteis) e até
mesmo os produtos de limpeza, todos eles responsáveis por alergias e
irritações nas vias respiratórias.
Portanto,
a melhor forma de combater (ou evitar) a SED é, entre outras, manter o
ambiente limpo, ter controle sobre a quantidade de VOC dentro dos
ambientes, ter controle sobre a quantidade e qualidade dos produtos de
limpeza e conceber um bom sistema de ar condicionado, desde o seu
projeto, passando pela instalação e comissionamento, até uma manutenção
com qualidade. O próprio ar condicionado é algo necessário, vivemos em
um país de altas temperaturas, mas é preciso estar atento aos cuidados
pertinentes.
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