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domingo, 20 de maio de 2018

Avaliação do Conhecimento sobre as Plantas Medicinais entre os Estudantes do Unileste, MG



NOTA CIENTÍFICA Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 399-401, jul. 2007 Introdução A fitoterapia constitui uma forma de terapia medicinal que vem crescendo rapidamente nestes últimos anos [1]. 

Desde 1978, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incentiva os investimentos públicos em plantas medicinais, devido aos altos preços dos produtos sintéticos, e estima que o consumo de remédios à base de ervas e plantas medicinais é prática comum para cerca de 80% da população mundial, segundo Simões et al. [2]. A aplicação caseira das plantas medicinais é feita na elaboração de produtos para uso interno (na forma de chás, xaropes, tinturas) [3,4]; e externo (emplastos, cosméticos, banhos), também na forma de óleos de massagem e aromaterapia. Para produção desses medicamentos, são utilizadas uma ou mais partes das plantas. 

Entretanto, algumas plantas produzem princípios ativos medicinais em determinados órgãos e substâncias tóxicas em outros [4]. No mercado brasileiro é possível comprar livremente, independente de receita médica, medicamentos rotulados como fitoterápicos e ditos milagrosos, que geralmente são produzidos por indústrias sem registro no Ministério da Saúde ou conhecimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 

Esses medicamentos não oferecem garantia de procedência da matéria-prima e muitas vezes são colocados no mercado sem passar por testes de comprovação dos efeitos terapêuticos e toxicológicos, conforme Simões et al. [2]. Segundo Panizza [5], outra vantagem em comprar medicamento fitoterápico industrializado é que o consumidor tomará um xarope, ou qualquer outro tipo de medicamento, feito da forma e com a quantidade adequada da erva, o que já é mais difícil ocorrer se o mesmo for feito da maneira caseira.

 Esses fatores, aliados à falta de conhecimento técnico da população representam grande risco à saúde dos usuários, seja por seu uso excessivo ou incorreto. É importante desmistificar a crença de que tudo que é natural pode ser consumido à vontade. Segundo Lima & Ferraz [4], como qualquer medicamento, aqueles feitos de plantas medicinais podem trazer riscos sérios ao organismo humano. O presente trabalho teve como objetivo geral avaliar o conhecimento e fontes de informação dos estudantes das diferentes áreas de ensino do UnilesteMG sobre as propriedades das plantas medicinais. Material e métodos A. Coleta de dados Foram entrevistados estudantes de todos os cursos superiores oferecidos pela instituição. 

A aplicação dos questionários foi feita de forma aleatória, buscando entrevistar o maior número de universitários matriculados nos diversos cursos oferecidos pela instituição. B. Cuidados éticos Os dados dos participantes serão mantidos em sigilo, respeitando este e os demais itens da resolução nº196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Antes da aplicação dos questionários, os entrevistados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, contendo informações sobre sua participação voluntária e demais dados sobre a pesquisa. Resultados No total foram distribuídos 400 questionários. A amostra obtida (n=310) permitiu estimar a aceitação dos alunos em participar voluntariamente da pesquisa em 78%, em relação ao total de abordagens. 

A. Sobre o conhecimento das propriedades das plantas A análise dos dados revelou que 79% dos participantes relataram já ter utilizado plantas medicinais, porém, apenas 35% do total de alunos dessa instituição que participaram dessa pesquisa têm conhecimento de que muitas plantas podem causar danos à saúde humana quando usadas de forma inadequada, contra 56% que não acreditam nessa afirmação. Nessa questão, houve equilíbrio apenas entre os entrevistados dos cursos da área da saúde. A Tabela 1 mostra esses valores separados por áreas do conhecimento. B. Sobre as fontes de informação Na questão sobre a fonte de informação sobre produtos, os entrevistados tinham a possibilidade de assinalar mais de uma opção. Nos 310 questionários foram contabilizadas 618 respostas. 

As opções mais assinaladas foram: “pais e avós”, com 32% das respostas e em seguida, “amigos e vizinhos”, com 15%. A opção “médicos e farmacêuticos” apareceu em 12% Avaliação do Conhecimento sobre as Plantas Medicinais entre os Estudantes do Unileste, MG Ana Cristina Magalhães de França1 , Ariane Cristine Araújo Silva2 , Pauline Reggiane Silveira2 , Alice Pita-Barbosa2 , Richard Costa Barbosa2 e Carla de Arêdes Brum3 ________________ 1. Aluna de Graduação do Curso de Ciências Biológicas e Bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIC) do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG). Av. Tancredo Neves, 3500 – Bairro Universitário, Coronel Fabriciano, MG, CEP 35170-056. E-mail: acmfranca@hotmail.com.br 2. Aluno(a) de Graduação do Curso de Ciências Biológicas e Colaborador(a) do Programa de Iniciação Científica (PIC) do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG). Av. Tancredo Neves, 3500 – Bairro Universitário, Coronel Fabriciano, MG, CEP 35170-056. 3. Professora do Curso de Ciências Biológicas e Orientadora do Programa de Iniciação Científica (PIC) do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG). Av. Tancredo Neves, 3500 – Bairro Universitário, Coronel Fabriciano, MG, CEP 35170-056. Apoio financeiro: UnilesteMG e Fundação Geraldo Perlingeiro de Abreu (FGPA). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 399-401, jul. 2007 400 das respostas, enquanto “Balconistas de lojas e farmácias” obteve um percentual de 4% como fonte de informação. 

Do total de respostas, 5% eram referentes à obtenção de informações sobre plantas medicinais e fitoterápicos através de comerciais veiculados em televisão e, também, 5% através de programas documentários. A Internet e literatura especializada foram citadas em 6% e 7%, respectivamente, das respostas. Comerciais veiculados em jornais e revistas, consulta em livros populares e indicações de raizeiros foram citadas por 6%, 3% e 2%, nessa ordem. A questão foi deixada em branco em 18 questionários, representando 3% do total. A relação com o número de citações para essa questão aparece na Figura 1. Apenas 16% dos entrevistados afirmam que sempre buscam informações científicas sobre a eficácia das plantas e produtos que costumam utilizar; 48% raramente buscam tais informações, 34% responderam que nunca fizeram esse tipo de pesquisa, 2% dos entrevistados não responderam a essa questão. A relação com o número de citações para essas questões aparece na Figura 2. C. Sobre os medicamentos naturais industrializados Sobre a aquisição de medicamentos naturais industrializados, 51% dos entrevistados responderam que compram em farmácias, 12% em supermercados, 3% através de revistas e 24% dos entrevistados afirmam não utilizar esse tipo de produto. 

Foram feitas duas citações de compra através da internet e em 30 questionários essa pergunta foi deixada em branco, representando 9% do total. Para esse grupo, também foi perguntado se costumam ler as informações contidas em embalagens, rótulos e bulas dos mesmos, onde 75% afirmaram verificar e 15% dos entrevistados não costumam ler as informações. Essa pergunta não foi respondida por 10% dos entrevistados. Para os entrevistados que verificam as informações dadas pelos fabricantes nas embalagens e rótulos, um quadro foi montado com as informações mais freqüentes encontradas nas embalagens e bulas, onde 68% costumam verificar a data de fabricação dos produtos, 87% conferem o prazo de validade, 53% a composição, 63% a indicação, 67% as contra-indicações, 66% a dosagem recomendada, 64% as reações adversas, 27% verificam a procedência do produto e apenas 23% dos participantes costumam verificar se o produto possui registro junto ao Ministério da Saúde ou se são do conhecimento da ANVISA.

 Discussão O presente trabalho mostrou também que 55% dos entrevistados adquirem medicamentos naturais em farmácias, muitas vezes, sem indicação profissional, o que pode caracterizar a prática da automedicação. Em pesquisa sobre o consumo de produtos vitamínicos entre universitários, Santos & Barros-Filho [6] constatam que a ação de balconistas de farmácias pode contribuir para essa prática. Outro fator que pode contribuir para a automedicação é o tipo de publicidade, em torno de produtos elaborados a partir de compostos naturais, veiculada nos diversos meios de comunicação. Analisando a publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádios do Rio Grande do Sul, Heineck et al. [7] verificaram que a mais de 80% das propagandas não apresentam informações importantes, como a composição, posologia e o laboratório fabricante. 

E ainda, que muitas das propagandas enfatizam a ausência de quaisquer riscos, mediante declarações como “Não tem contra-indicações”, caracterizando a indução ao uso indiscriminado. Sendo os medicamentos promovidos como produtos quaisquer, omitindo-se informações fundamentais a respeito de cuidados, reações adversas e contra-indicações. Foram oferecidas onze opções de fontes de informação, sendo que mais da metade dos entrevistados buscam informações sobre plantas medicinais através de conversas com seus “pais e avós” e em seguida aparece a opção “amigos e vizinhos”, demonstrando que o hábito do consumo de fitoterápicos está ligado à tradição familiar e à cultura popular. Os estudos realizados ao longo dos anos sobre as propriedades das plantas medicinais, seus efeitos terapêuticos e toxicológicos mostram que muitas plantas podem causar danos à saúde humana quando usadas de forma inadequada [4].

 Embora os entrevistados sejam universitários com amplo acesso a informação, poucos entrevistados possuem o hábito de pesquisar a existência de comprovação científica sobre a eficácia dos produtos que costumam utilizar. Mais da metade dos participantes costumam comprar medicamento natural industrializado, sendo essa a preferência de 30% dos entrevistados. Entre os usuários de medicamento natural industrializado, poucos entrevistados verificam a procedência do produto e é ainda menor o número de participantes que costumam verificar se o produto possui registro junto ao Ministério da Saúde ou se são do conhecimento da ANVISA, sendo que grande parte dos produtos oferecida no mercado atualmente não recebeu o consentimento para comercialização desses órgãos de fiscalização, podendo oferecer riscos à saúde dos usuários, por não se conhecer a idoneidade dos mesmos. Agradecimentos Ao UnilesteMG e à Fundação Geraldo Perlingeiro de Abreu – FGPA, pelo apoio financeiro à realização deste estudo. 

Ao Programa de Iniciação Científica – PIC, pelo apoio e incentivo ao reconhecimento científico. Aos estudantes do UnilesteMG, que gentilmente, aceitaram participar das entrevistas. Referências [1] YUNES, R.A., PEDROSA, R.C. & CECHINEL FILHO, V. 2001. Fármacos e fitoterápicos: a necessidade do desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. – Quím. Nova, jan./fev., vol.24, n.1, p.147–152. ISSN 0100-4042. [2] SIMÕES, C.M.O. [et al.]. 2003. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5ª ed. rev. ampl. – Porto Alegre/Florianópolis: UFRGS/UFSC. [3] SANTOS, M.G.; DIAS, A.G.P. & MARTINS, M.M. 1995. Conhecimento e uso da medicina alternativa entre alunos e professores de primeiro grau. – Rev. Saúde Pública, jun., vol.29, no.3, p.221–227. ISSN 0034-8910. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 399-401, jul. 2007 401 [4] LIMA, V.C. & FERRAZ, E.B. 2002. Uso de plantas medicinais: da poesia à tradição.– IPA – Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA – Documentos, 28). Recife: IPA, 2002. 59p. [5] PANIZZA, S. 2004. Cheiro de Mato – In: Revista Geração Saúde: Plantas & Ervas. – São Paulo: Minuano, Ano II, nº 11, p. 6–8. [6] SANTOS, K.M.O. & BARROS-FILHO, A.A. 2002. Consumo de produtos vitamínicos entre universitários de São Paulo, SP. Rev. Saúde Pública, abr., vol.36, no.2, p.250-253. ISSN 0034-8910. [7] HEINECK, I.; GALLINA, S.M.; SILVA, T. [et al.]. 1998. Análise da publicidade de medicamentos veiculada em emissoras de rádio do Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, jan./mar., vol.14, no.1, p.193-198. ISSN 0102-311X. Tabela 1. Relação do número e percentual (%) de entrevistados de acordo com a área do conhecimento em relação ao conhecimento e uso de plantas medicinais.

 Área do conhecimento Total de entrevistados por área Já utilizaram plantas medicinais Sabem dos riscos do uso inadequado de plantas medicinais Sim (%) Não (%) Branco (%) Sim (%) Não (%) Branco (%) Ciências Exatas 76 58 18 - 48 28 - (76) (24) - (63) (37) - Ciências da Educação 36 27 8 1 21 13 2 (75) (22) (3) (58) (36) (6) Ciências da Saúde 146 119 25 2 72 71 3 (82) (17) (1) (49) (49) (2) Ciências Sociais 52 33 17 2 37 14 1 (63) (33) (4) (71) (27) (2) 198 90 14 22 38 20 46 30 28 74 40 18 0 50 100 150 200 250 Nº de citações Pais e avós Amigos e vizinhos Raizeiros Balconistas Jornais e revistas Livros populares Livros especializados TV - comerciais TV - documentários Médicos e farmacêuticos Internet Branco Figura 1. Relação do número citações quanto à principal fonte de informação sobre as plantas medicinais. 106 148 50 6 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Nº de citações Nunca pesquisaram Raramente pesquisam Sempre pesquisam Branco Figura 2. Relação do número citações de pesquisa sobre comprovação científica das plantas medicinais utilizadas pelos entrevistados.

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