Por Prof. Dr. Mario
Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg,
Alemanha. Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo (CRMSP 34330)
Setembro
Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, que
tem como intuito alertar a população sobre a realidade do suicídio e as formas
de prevenção. De acordo com a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), este
trabalho surgiu para disseminar informações que podem auxiliar a sociedade a
desmitificar o tabu em torno do assunto e ajudar médicos a identificar seus fatores
de risco, tratar e instruir seus pacientes.
Iniciado
no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de
Medicina) e ABP, o Setembro Amarelo realizou as primeiras atividades em 2014, em
Brasília. Em 2015, a campanha conseguiu uma maior exposição com ações em todas
as regiões do País. No exterior, o IASP – Associação Internacional para
Prevenção do Suicídio – também incentiva a divulgação do evento.
Segundo a
ABP, todos os anos são registrados cerca de dez mil suicídios no Brasil, e mais
de um milhão em todo o mundo. A ABP afirma ainda que 17% das pessoas no Brasil
pensaram, em algum momento, em tirar a própria vida. Estima-se que até 2020
poderá ocorrer um aumento de 50% na ocorrência anual de suicídios em todo o
mundo, ultrapassando o número de mortes decorrentes de homicídio e guerra
combinados.
Mas,
afinal, o que leva uma pessoa a pensar em suicídio ou a chegar a cometê-lo?
Segundo a ABP, “o suicídio pode ser definido como um ato deliberado, de forma
consciente e intencional, usando um meio que ele acredita ser letal”. O
comportamento suicida vai num crescente que envolve desde pensamentos até
planos e a tentativa de suicídio. Trata-se de uma complexa interação de fatores
psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais.
Sendo assim, o pensamento suicida deve ser considerado como o desfecho de uma
série de variáveis que se acumulam na história do indivíduo, não podendo ser levado
em conta apenas determinados acontecimentos pontuais de sua vida.
Conforme
a ABP, há diversas maneiras de prever e impedir o ato suicida. Os dois
principais sinais de alerta são:
•
Tentativa prévia de suicídio: é o fator preditivo isolado mais importante. Pacientes
que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de
tentar suicídio novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já
haviam tentado previamente.
• Doença
mental: sabemos que quase todos os suicidas tinham uma doença mental, muitas
vezes, não diagnosticada ou não tratada de forma adequada. Os transtornos
psiquiátricos mais comuns incluem depressão; transtorno bipolar; alcoolismo e
abuso/dependência de outras drogas; alguns transtornos de personalidade e esquizofrenia.
Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou
seja, quanto mais diagnósticos, maior o risco.
Outros
fatores de risco também devem ser considerados, como o sentimento de
desesperança, desamparo e desespero; doenças clínicas graves, como câncer, HIV
ou doenças degenerativas; maus tratos na infância, como abuso físico e sexual;
dentre outros.
Muitas
pessoas com intenção suicida expressam, de modo sutil, o desejo de morrer;
falam de sua falta de esperança, do sentimento de culpa e de a vida não valer
mais a pena. Amigos, familiares, pessoas que tenham contato com alguém demonstrando
tristeza profunda e com um discurso pessimista precisam levar em consideração o
risco de suicídio. Poderão, assim, conversar e levar o indivíduo para receber
ajuda especializada.
Vale
lembrar que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Hospitais de Urgência
e Emergência (geral e/ou psiquiátrico), os Serviços Especializados e outros são
de fundamental importância para os indivíduos que estão em situação de crise.
Portanto, ao menor sinal de alterações no comportamento compatíveis às
características citadas acima, é imprescindível buscar ajuda médica, de
preferência, o mais rápido possível.
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