Por Daniela Masi, psicóloga
A média de idade dos pacientes nos consultórios de psicologia tem, dramaticamente, ficado cada vez menor. Num mundo ideal, crianças não deveriam sofrer nenhum transtorno, especialmente de ansiedade. Mas estão. E isto me intriga ao ponto de construir uma reflexão para além dos protocolos de tratamento e da quantidade de vezes que precisei fazer o devido encaminhamento para os cuidados junto a psiquiatras.
A primeira e obrigatória questão é porque o transtorno de ansiedade é uma das doenças mais comum hoje em dia entre crianças e adolescentes?
Se as hipóteses da resposta da primeira questão forem válidas, a segunda indagação deve ser: o que se deve fazer para lidar com a ansiedade nas crianças? Como é possível evitar que se manifestem num grau capaz de ser diagnosticada como um transtorno que necessite da ajuda de especialistas?
No dia-a-dia, a regra de ouro é explicar sobre o que estamos falando. Assim, vamos primeiro dizer o que é ansiedade.
A ansiedade é uma forma de excitação emocional (o estresse), que sentimos em nosso corpo, que mexe com nossas emoções e altera a forma como percebemos o mundo à nossa volta. E isto não é um problema pois é uma reação normal de qualquer pessoa. Todos nós, em vários e específicos momentos da vida, vamos experimentar sentimentos de ansiedade. Quando for normal e adequada, pode até ser um estímulo motivador. Afinal, é este estado que nos ajuda a se manter focado, em alerta e pronto para darmos o nosso melhor. Tais sentimentos podem variar de intensidade. Podemos sentir desde uma sensação leve e desconfortável, até uma situação de pânico. O que irá determinar se esses sentimentos são normais ou não é a condição de exagero, a desproporção frente ao estímulo, quando interferem na qualidade de vida, na rotina e, sobretudo, no conforto emocional. De um modo geral, a grande maioria dos adultos sabe lidar com tais situações.
Mas crianças com problema de ansiedade quase nunca conseguem saber o que está causando as emoções e preocupações que tem.
Um caminho para análise do quadro atual está na percepção das crianças não poderem viver como crianças. A infância hoje aparenta ter virado um território de regras, de qualquer tipo. Os vínculos psicológicos da primeira infância, quando existem, são bruscamente quebrados para uma agenda estruturada de ocupação de tempo. Um mundo organizado por adultos para entreter os pequenos.
O rigor desta agenda se inspira muitas vezes no projeto de vida dos genitores, no qual, sinto em dizer, as crianças são um tipo de apêndice. Filhos se tornaram parte de uma programação de conformidade social quando deveriam ser o centro de projetos de vida.
Desta maneira, ao invés de serem educadas emocionalmente para aprenderem lições para toda a vida, estão enroscadas na vida dos pais. Pedintes por atenção. Disponíveis para acessar o mundo real e seus problemas insolúveis. Elas não merecem isso.
Como não conseguem compreender as razões do que sentem, sofrem. Esta quantidade de dor reprimida gera preocupações excessivas sobre diferentes aspectos da vida, da escola, passando pela segurança com membros da família, e futuro de uma forma geral. Pensam que o pior pode acontecer. Junto com a preocupação e o medo, vêm dores de cabeça, de estômago, tensão muscular ou cansaço. Deste estágio, pode-se lidar com formas de obsessão, de separação de tudo e de todos, ataques de pânico.
Se tais hipóteses estão minimamente corretas, para se evitar uma visita ao psicólogo mais próximo para que a criança se submeta a uma terapia cognitivo-comportamental, aprendi com algumas boas avós e tias, cinco regras de ouro para educar e termos crianças com personalidade e felizes.
. Poupe seus filhos de ver as mazelas do mundo por todo o tempo possível. Ele não precisa ainda ver o mundo real, pois não tem maturidade para entender o terrorismo. Os contos clássicos existem para ensinarmos posturas ideais. E toda vez que pedirem para repetir, repita a leitura.
. Faça a criança sentir que você está por perto. Elas precisam de porto seguro para voltar a todo instante. No momento correto você saberá a hora dele aprender que longe é um lugar que não existe.
. Ensine limites. Só assim você mesmo aprenderá o que é choro de verdade ou chantagem.
. Seja exemplo. Uma criança só deveria saber que os pais são falíveis na pós-adolescência, quando forem capazes por si mesmo sentir a complexidade humana.
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