A
partir dos 30 anos, o principal hormônio sexual masculino, a
testosterona, começa a declinar. É um processo natural e gradativo
e, diferentemente da menopausa, afeta muito pouco a fertilidade.
Contudo, em alguns casos, os níveis podem cair excessivamente, o que
costuma ocorrer na meia idade. As consequências da chamada
deficiência androgênica incluem disfunção erétil, redução da
energia, depressão, perda de desejo sexual, ondas de calor e
irritabilidade, entre outros (veja quadro). Quando esses sintomas
passam a afetar a qualidade de vida, os médicos recomendam a terapia
de reposição de testosterona. Até agora, porém, havia dúvidas
sobre o risco que esse tratamento poderia representar ao coração.
A
terapia hormonal para homens melhora a fadiga, a força muscular e o
humor. O problema é que alguns estudos sugeriam uma associação
entre a reposição e a incidência maior de doenças
cardiovasculares. Além disso, há especialistas que defendem que a
substância pode favorecer o surgimento de câncer de próstata e de
mama. Por causa dessas controvérsias, pesquisadores americanos
conduziram uma série de testes para verificar os benefícios e
malefícios em potencial da reposição da testosterona à base de
gel.
Os
resultados, publicados na revista da Associação Médica Americana
(Jama), mostram que, comparado a placebo, a substância corrige
anemia e aumenta a densidade óssea. Por outro lado, não houve
melhora — nem piora — na memória e em outras funções
cognitivas. Já para o coração, embora um dos estudos tenha
encontrado elevação da quantidade de placas não calcificadas nas
artérias, outro, feito com número maior de participantes, detectou
redução de risco cardiovascular.
Calcificações
O
endocrinologista Peter J. Snyder, da Universidade da Pensilvânia,
coordenou os trabalhos de quatro dos cinco artigos divulgados, e
contou com uma equipe de pesquisadores de nove instituições
norte-americanas. Um desses estudos teve como foco a saúde
coronariana. Foram incluídos 170 homens, sendo que, desses, 50,7%
tinham calcificações severas no início do estudo. Ao fim de 12
meses e comparado ao grupo do placebo, os que receberam testosterona
tiveram um aumento no volume das placas não calcificadas, o que foi
visualizado por meio de tomografia computadorizada e angiografia.
Contudo,
as formações não foram associadas à ocorrência de infartos e
derrames. “Esses estudos ainda têm limitações. O número de
participantes não é suficiente para determinar os riscos do
tratamento, sejam os eventos cardiovasculares maiores ou o câncer de
próstata. Encontramos muitos benefícios, mas ainda não sabemos os
riscos. Nosso próximo passo é um teste maior e mais longo, para
determinar se a reposição pode aumentar a incidência de ataque
cardíaco e de tumores de próstata, além de reduzir o risco de
fraturas”, conta Snyder.
Com
um número bem maior de participantes — 44 mil homens acima de 40
anos —, outro trabalho publicado no Jama encontrou menor risco de
problemas cardiovasculares entre aqueles que faziam reposição de
testosterona. No universo de voluntários — acompanhados, em média,
por três anos e quatro meses —, 8.808 tinham baixos níveis da
substância e precisavam repô-la, seja por meio de gel, comprimido
ou injeção intramuscular. Comparado aos demais, eles sofreram menos
episódios de infarto e derrame no período avaliado. No fim do
estudo, a taxa de ocorrências cardiovasculares entre o grupo da
reposição foi 16,9 por 1 mil pessoas ao ano, contra 23,9.
O
endocrinologista Flavio Cadegiani, especialista da Associação
Americana de Endocrinologistas Clínicos e membro da Associação
Brasileira para Estudos da Obesidade, explica que um dos mecanismos
pelos quais a testosterona pode reduzir os riscos cardiovasculares é
que, do ponto de vista celular, a substância atua em diversas
frentes metabólicas, diminuindo a absorção de gordura e aumentando
a sensibilidade à insulina, por exemplo. Esses fatores protegem o
organismo de infarto e acidente vascular. “A grande novidade desse
estudo é mostrar que a reposição do hormônio reduz esse risco”,
observa.
O
médico esclarece que, atualmente, só se prescreve a terapia de
testosterona quando o paciente, além de baixos níveis da
substância, apresenta sintomas que afetam a qualidade de vida.
Contudo, ele não descarta que, no futuro, com o resultado de mais
estudos de grande porte, a reposição hormonal possa entrar no rol
de procedimentos indicados para a redução de risco coronariano em
homens com taxas de testosterona insuficientes, ainda que não
existam incômodos associados.
Ossos
Além
da saúde cardiovascular, os estudos coordenados por Peter J.
Snyder verificaram a ação da reposição de testosterona sobre a
densidade óssea e a força, a memória e a cognição, e a
contagens de células sanguíneas, como hemácias e leucócitos. Os
voluntários foram divididos em dois grupos: metade recebeu
placebo, e a outra metade foi tratada com a testosterona em gel.
No
primeiro caso, os cientistas verificaram um aumento na densidade
óssea e na força muscular de idosos que fizeram uso da testosterona
em gel. “Quando homens de qualquer idade desenvolvem níveis
severamente baixos de testosterona devido a doenças desconhecidas,
seu índice de massa corporal cai, enquanto as fraturas aumentam”,
destaca o artigo. No fim, descobriu-se que a substância, de fato,
melhora a densidade óssea, principalmente na espinha e no osso
trabecular, responsável por 20% do esqueleto humano.
Palavra de especialista
Risco
para os jovens
“De
forma geral, os estudos mostraram efeitos benéficos, mas é preciso
destacar que são pacientes mais velhos, com baixos níveis do
hormônio. Esse resultado não é para o jovenzinho que quer tomar
hormônio na academia. Tomar testosterona sem necessidade causa
alterações hepáticas irreversíveis, aumenta o colesterol e os
triglicerídeos, eleva a pressão, reduz a fertilidade, causa acne e
altera o comportamento. Em mulheres, dá alterações na voz, na
distribuição de cabelo, e causa hipertrofia de clitóris. Para os
homens mais velhos com deficiência hormonal, a reposição de
testosterona melhora a anemia e a densidade óssea. O estudo com
8.808 homens também mostrou um efeito cardiovascular benéfico. Isso
não quer dizer que a testosterona deve ser um tratamento para doença
cardiovascular; para isso existem estatinas e aspirina. Significa
que, para os que precisam fazer a reposição, não existem riscos.
Embora um dos estudos tenha encontrado aumento de placas coronarianas
não calcificadas, isso não aumentou o risco, então pode ser que o
aumento do volume dessas placas não seja maléfico para o corpo.”
João
Lindolfo Borges, professor de endocrinologia da Universidade Católica
de Brasília e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologista e
Metabolismo.
Fonte:
correiobraziliense.com.br
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