A codeína é prescrita a pacientes pediátricos há muitas décadas como um analgésico e um medicamento para alívio contra a tosse
A Academia Americana de Pediatria, AAP, está exortando pais e profissionais de saúde a pararem de dar codeína para as crianças, destacando que é preciso mais conscientização sobre os riscos e as restrições da droga em pacientes com idade inferior a 18 anos. Um relatório clínico, publicado no Pediatrics, “Codeína: hora de para dizer 'Não'”, destaca o uso continuado da droga em ambientes pediátricos, apesar das evidências crescentes que ligam o analgésico a reações respiratórias fatais ou mortais.
A codeína é uma droga opiácea, que por décadas foi usada em medicamentos para dor e em fórmulas contra a tosse, vendidos sem receita médica. O problema é que a codeína é convertida pelo fígado em morfina. Devido à variabilidade genética na rapidez com que o corpo de um indivíduo processa a droga, o medicamento fornece alívio inadequado para alguns pacientes, ao mesmo tempo em que tem um efeito muito forte sobre outros. “Certos indivíduos, especialmente crianças e aqueles com apneia obstrutiva do sono, são ‘metabolizadores ultra-rápidos’ da droga e podem apresentar taxas de respiração severamente retardadas ou até mesmo morrer após tomar doses padrão de codeína”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Apesar destes riscos bem documentados e com as preocupações expressas por diversas entidades médicas e de saúde, incluindo a AAP, a Food and Drug Administration, dos EUA, e a Organização Mundial de Saúde, a droga ainda está disponível, sem receita médica, em fórmulas de medicamentos para tosse em 28 estados americanos. Além disso, de acordo com o relatório AAP, a droga ainda é comumente prescrita para crianças após procedimentos cirúrgicos, como a remoção de amígdala e de adenoide. Mais de 800.000 pacientes, com menos de 11 anos, receberam prescrição de codeína entre 2007 e 2011, de acordo com um estudo citado no relatório da AAP. Os otorrinolaringologistas são os prescritores mais frequentes de formulações líquidas de codeína / acetaminofen (19,6%), seguidos por dentistas (13,3%), pediatras (12,7%) e médicos de clínica geral / família (10,1%).
“O novo relatório clínico descreve alternativas potenciais para fornecer alívio da dor em crianças, mas reconhece que poucos medicamentos seguros e eficazes estão disponíveis para uso pediátrico. O manejo efetivo da dor em crianças continua desafiador porque seus corpos processam as drogas de forma diferente do que os adultos”, destaca o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
O relatório da AAP sugere que é preciso uma melhor educação dos pais e dos profissionais de saúde sobre os riscos do uso de codeína, além de restrições formais de seu uso em crianças. Isso sem contar com pesquisas adicionais sobre o tratamento seguro e efetivo da dor em crianças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário