Acaba de ser publicado na seção “Ponto de Vista” da edição de fevereiro da Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB), importante periódico científico brasileiro disponibilizado livremente para a classe médica nacional e internacional, o artigo intitulado Therapeutic use of the rebound effect of modern drugs: “New homeopathic medicines” (pdf), no qual revisamos os 20 anos de estudos no campo da fundamentação científica do princípio de cura homeopático perante a Farmacologia e a Fisiologia modernas.
Nessa revisão, abordamos inicialmente a linha de pesquisa intitulada Fundamentação científica do princípio da similitude na farmacologia moderna: estudo sistemático do efeito rebote dos fármacos modernos, desenvolvida desde 1997 com o objetivo de fundamentar o princípio da similitude terapêutica (reação secundária e oposta do organismo após a ação primária do medicamento) no estudo do efeito rebote (reação paradoxal) de centenas de fármacos modernos, evidenciando que as observações feitas por Samuel Hahnemann há mais de dois séculos são confirmadas por evidências científicas recentes da Farmacologia Clínica e Experimental.
Num segundo momento, descrevemos a linha de pesquisa iniciada em 2003, na qual vimos propondo o uso de centenas de fármacos modernos segundo o princípio da similitude terapêutica (Novos Medicamentos Homeopáticos: uso dos fármacos modernos segundo o princípio de cura homeopático), empregando o efeito rebote (reação paradoxal) das drogas no sentido curativo, sugerindo tratar os sinais e sintomas dos doentes com doses ultradiluídas (dinamizadas) dos fármacos que causam sinais e sintomas (eventos adversos e colaterais) semelhantes. Vale ressaltar que esta abordagem também vem sendo proposta, atualmente, por ilustres pesquisadores da Farmacologia moderna segundo o codinome “Farmacologia Paradoxal”, aplicando os mesmos princípios seculares do modelo homeopático.
Finalizando a revisão, trouxemos os resultados de pesquisa clínica recém-realizada que fundamenta essa proposta, publicados recentemente nos periódicos Homeopathy (Protocol of randomized controlled trial of potentized estrogen in homeopathic treatment of chronic pelvic pain associated with endometriosis) e European Journal of Obstetrics and Gynecology and Reproductive Biology (Potentized estrogen in homeopathic treatment of endometriosis-associated pelvic pain: a 24-week, randomized, double-blind, placebo-controlled study).
Neste projeto de pós-doutorado desenvolvido junto ao Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), realizamos um ensaio clínico randomizado, duplo cego e placebo controlado com 24 semanas de duração que incluiu 50 mulheres com idades entre 18-45 anos com diagnóstico de endometriose infiltrativa profunda (baseado em imagens de ressonância magnética ou ultrassom transvaginal após preparo intestinal) e escore ≥ 5, em uma escala analógica visual (VAS: 0-10 pontos), para dor pélvica associada à endometriose (DPAE). Estrogênio ultradiluído ou dinamizado (12cH, 18cH e 24cH) ou placebo foi administrado duas vezes ao dia, por via oral. A medida de desfecho primário foi a diferença na gravidade do escore (VAS) parcial e global de DPAE entre as semanas 0 e 24, determinado pela diferença entre a pontuação média de cinco modalidades de dor pélvica crônica (dismenorreia, dispareunia de profundidade, dor pélvica acíclica, dor intestinal cíclica e/ou dor urinária cíclica). As medidas de desfecho secundário foram as diferenças de pontuação média para qualidade de vida (Questionário de Qualidade de Vida SF-36), sintomas de depressão (Inventário de Depressão de Beck, IDB) e sintomas de ansiedade (Inventário de Ansiedade de Beck, IAB).
Evidenciando a superioridade do estrogênio homeopático perante o placebo, os resultados do estudo mostraram que o escore global de DPAE (VAS: 0-50 pontos) diminuiu 12,82 pontos (P < 0.001) no grupo tratado com o estrogênio dinamizado, entre o momento basal (semana 0) e a semana 24. O grupo que usou o estrogênio dinamizado também apresentou redução do escore parcial (VAS: 0-10 pontos) em três modalidades de DPAE: dismenorreia (3.28; P < 0.001), dor pélvica acíclica (2.71; P = 0.009) e dor intestinal cíclica (3.40; P < 0.001). O grupo placebo não apresentou quaisquer alterações significativas nos escores globais ou parciais de DPAE. Além disso, o grupo do estrogênio dinamizado mostrou melhora significativa em três dos oito domínios do SF-36 (dor corporal, vitalidade e saúde mental) e nos sintomas da depressão (IDB). O grupo placebo não mostrou nenhuma melhoria significativa nestes desfechos secundários. Estes resultados demonstraram a superioridade de estrogênio dinamizado sobre o placebo. Poucos eventos adversos foram associados ao estrógeno homeopático. O estrogênio dinamizado (12cH, 18cH e 24cH) na dose de 3 gotas duas vezes ao dia e durante 24 semanas foi significativamente mais eficaz que o placebo para reduzir a dor pélvica associada à endometriose, melhorar a qualidade de vida e reduzir os sintomas depressivos das pacientes.
Aumentando o arsenal homeopático com centenas de novas substâncias medicinais e ampliando a abrangência da terapêutica homeopática para sinais, sintomas, doenças e síndromes modernas, muitos deles ausentes nos compêndios homeopáticos clássicos, essa proposta pode ser empregada de forma adjuvante nos mais variados distúrbios existentes, assim como fizemos no caso da “endometriose”, seguindo o protocolo acima descrito. No artigo citado inicialmente (RAMB), publicamos também uma tabela com as inúmeras possíveis aplicações clínicas sugeridas por esta linha de pesquisa, empregando centenas de fármacos modernos.
Disponibilizando todo esse conhecimento num site bilíngue e de livre acesso, esperamos poder contribuir com o desenvolvimento do modelo homeopático e a ampliação da arte de curar.
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