Cláudia Navarro, especialista em reprodução assistida
Por
muito tempo acreditamos que o tempo passava somente para a mulher
quando o assunto era decidir ter um filho. Mas agora não faltam estudos
que mostram também aos homens uma espécie de prazo de validade na
escolha de se tornarem pais. A idade chega para ambos os sexos, e,
apesar de não necessariamente levar à infertilidade nos homens, os
gametas masculinos sofrem com a passagem do tempo, conforme mostram
pesquisas.
De
fato, o relógio biológico feminino é injusto com a realidade das
mulheres. Hoje elas ocupam uma farta parcela do mercado de trabalho,
assumem a hierarquia em diversos segmentos, estudam como nunca e, assim,
postergam ao máximo a maternidade. Para os homens, esse “check list” da
lista de afazeres da vida não parecia ser um problema para decidirem
gerar um filho somente depois das conquistas pessoais.
Entretanto,
somente neste ano, dois estudos internacionais já alertam que é hora de
os homens repensarem o adiamento do planejamento familiar. Em uma das
publicações, os pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados
Unidos, analisaram dados de aproximadamente 19 mil ciclos de tratamento
de fertilização in vitro na região de Boston entre 2000 e 2014.
Como
era de se esperar, no caso das mulheres, aquelas que tinham entre 40 e
42 anos tiveram as menores taxas de sucesso no tratamento, e, para essas
mulheres, a idade do parceiro não teve impacto. Mas, para mulheres mais
jovens, a idade do aspirante a pai teve influência significativa. As
parceiras com menos de 30 anos com parceiros entre 30 e 35 anos tiveram
taxa de sucesso de 73%. Por outro lado, para mulheres na mesma faixa
etária, com parceiros entre 40 e 42 anos, a taxa cai para 46%. Os
pesquisadores consideram que os resultados servem para ajudar mulheres a
encorajarem seus parceiros a ter um filho, uma vez que certas vezes
elas enfrentam resistência por parte deles.
Já
o estudo científico da Escola Icahn de Medicina do Hospital Mount
Sinai, em Nova York, nos Estados Unidos, contou com uma ampla análise de
mais de cem pesquisas internacionais sobre infertilidade masculina. Os
dados revelaram uma forte redução na contagem de esperma ao longo dos
anos entre os habitantes de países ocidentais ricos. Segundo os
pesquisadores, os dados indicam que, entre os anos 1970 até 2013, a
concentração e a quantidade total de gametas caíram mais que a metade
entre os moradores em geral da América do Norte, Europa, Austrália e
Nova Zelândia.
Apesar
de esse estudo apontar uma realidade que geograficamente parece
distante do Brasil, um dos pesquisadores ressaltou para a possibilidade
da redução de gametas masculinos ser um fenômeno global. Isso porque
países em desenvolvimento não teriam dados tão aprofundados sobre o
tema, o que torna difícil comprovar a situação nessas regiões.
A
ciência, então, já está mostrando aos homens que é hora de pensar sobre
paternidade e dividir com as mulheres os anseios e a responsabilidade
do planejamento familiar. A escolha de ser pai, além de permear o
preparo psicológico para tal responsabilidade e prazer, agora, também
parece se pautar no tempo. Ainda assim, mais estudos serão necessários
para que se tenha uma melhor compreensão da influência da idade não só
na fertilidade masculina, mas também na qualidade dos embriões gerados
por esses pais.
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